1 de agosto de 2015

Comentários de João 14

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Este capítulo faz parte da obra: “O Novo Testamento Comentado”, de autoria de Lucas Banzoli e de livre divulgação.
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1 Não se perturbe vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. 
2 Na casa de meu Pai há muitas moradas; senão, eu vos diria; vou para vos preparar lugar. 
3 E quando eu for, e vos preparar lugar, outra vez virei, e vos tomarei comigo, para que vós também estejais onde eu estiver. 
4 E já sabeis para onde vou, e sabeis o caminho. 
5 Disse-lhe Tomé: Senhor, não sabemos para onde vais; e como podemos saber o caminho? 
6 Jesus lhe disse: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim. 
7 Se vós conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai; e desde agora já o conheceis, e o tendes visto. 
8 Disse-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos ao Pai, e basta-nos. 
9 Jesus lhe disse: Tanto tempo [há que] estou convosco, e [ainda] não me tens conhecido, Filipe? Quem a mim tem visto, já tem visto ao Pai; e como dizes tu: Mostra-nos ao Pai? 
10 Não crês tu que eu [estou] no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos falo, não as falo de mim mesmo, mas o Pai que está em mim, ele [é o que] faz as obras. 
11 Crede em mim que eu [estou] no Pai, e [que] o Pai está em mim; e quando não, crede em mim por causa das próprias obras. 
12 Em verdade, em verdade vos digo, que aquele que crê em mim, as obras que eu faço também ele as fará; e fará maiores que estas. Porque eu vou a meu Pai. 
13 E tudo quanto pedirdes em meu nome, eu o farei; para que o Pai seja glorificado no Filho. 
14 Se alguma coisa pedirdes em meu nome, eu [a] fare. 
15 Se me amais, guardai meus mandamentos. 
16 E eu suplicarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique sempre convosco; 
17 Ao Espírito de verdade, a quem o mundo não pode receber; porque não o vê, nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós. 
18 Não vos deixarei órfãos; eu virei a vós. 
19 Ainda um pouco, e o mundo não me verá mais; mas vós me vereis; porque eu vivo, e vós vivereis. 
20 Naquele dia conhecereis que [estou] em meu Pai, e vós em mim, e eu em vós. 
21 Quem tem meus mandamentos, e os guarda, esse é o que me ama; e quem a mim me ama, será amado de meu Pai, e eu o amarei, e a ele me manifestarei. 
22 Disse-lhe Judas (não o Iscariotes): Senhor, que há, porque a nós te manifestarás, e não ao mundo? 
23 Respondeu Jesus, e disse-lhe: Se alguém me ama, guardará minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos a ele, e faremos morada com ele. 
24 Quem não me ama, não guarda minhas palavras. E a palavra que ouvis não é minha, mas sim do Pai que me enviou. 
25 Estas coisas tenho dito a vós, estando [ainda] convosco. 
26 Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, ao qual o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará tudo, e tudo quanto tenho dito vós, [ele] vos fará lembrar. 
27 A paz vos deixo, minha paz vos dou; vou dá- [la] a vós, não como o mundo [a] dá. Não se perturbe vosso coração, nem se atemorize. 
28 Já ouvistes que vos tenho dito: Vou, e venho a vós. Se me amásseis, verdadeiramente vos alegraríeis, porque tenho dito: Vou ao Pai; pois meu Pai maior é que eu. 
29 E já agora o disse a vós antes que aconteça, para que quando acontecer, [o] creiais. 
30 Já não falarei muito convosco; pois o príncipe deste mundo já vem, e ele nada tem em mim. 
31 Mas para que o mundo saiba que eu amo ao Pai, e assim faço como o Pai me mandou; levantai-vos, vamos embora daqui.




14.3 para que vós também estejais onde eu estiver. O texto deixa mais do que claro que nós não ocuparemos nossas “moradas” imediatamente após a morte, mas somente quando Jesus voltar para nos levar onde ele está. Isso porque é na volta de Cristo que os discípulos seriam ressuscitados, uma vez que a ressurreição ocorre concomitantemente à segunda vinda (1Ts.4:15-17). Os discípulos não entram nas moradas antes da ressurreição, mas somente após Jesus ressuscitá-los e trazê-los para junto da sua presença.

14.6 eu sou o caminho, a verdade e a vida. Vivemos em um mundo pluralista, pós-modernista e cada vez mais pendendo ao ecumenismo, onde dizer que só Jesus é a verdade é algo tido como intolerante, ofensivo e absurdo. Para o mundo, “todos os caminhos levam a Deus”. Para o mundo, “a verdade é relativa”. Mas o Cristianismo nunca foi a religião “do mundo”, mas a “contracultura” – “sabemos que somos de Deus, e que o mundo inteiro jaz no maligno” (1Jo.5:19). Por mais que o mundo nos apresente “novas verdades” e “outros caminhos”, o verdadeiro cristão se sente seguro em dizer que Jesus não é apenas “um caminho” ou “uma verdade”, mas caminho e verdade. É só ele, e não algum “santo” ou intermediário, que nos leva ao Pai – “ninguém vem ao Pai a não ser por mim” (v.6).

14.9 quem a mim me tem visto, já tem visto ao Pai. V. nota em Jo.12:45 e em Jo.11:41.

14.10 não as falo de mim mesmo. Não significa que Jesus fosse um robô do Pai, mas sim que o que ele dizia estava em plena harmonia e conformidade com a vontade de Deus.

14.12 fará obras maiores que estas. Embora alguns afirmem que Jesus aqui estava falando apenas dos ensinos e não dos milagres, é incontestável que o termo “obras” no evangelho de João está quase sempre relacionado a sinais e operações miraculosas (Jo.9:4; 10:37; 15:24; 12:37; 5:20; 7:3). É indiscutível que os seguidores de Jesus fariam milagres “maiores” que Jesus. A discussão está em que sentido que isso se aplica. Alguns afirmam que está em sentido quantitativo, ou seja, que pelo fato de Jesus ser apenas um e os discípulos serem muitos, os discípulos no total fariam mais milagres do que Jesus fez. Esta interpretação parece bastante improvável, uma vez que Jesus usa o termo “aquele”, denotando um indivíduo em particular e não um grupo como um todo. Por mais paradoxal que possa parecer, o sentido natural do texto é realmente que nós poderemos fazer milagres maiores do que os que Jesus fez. Por que isso não acontece na prática é uma outra questão, possivelmente associada ao fato de que são poucos que tem uma vida suficientemente consagrada ao ponto de fazer obras tão extraordinárias como Jesus fazia, ou mesmo pela pura incredulidade em pensar que tais obras são realmente possíveis. O problema não está no que Jesus disse, mas na incredulidade do homem em acreditar que Jesus disse exatamente o que disse.

14.13 tudo quanto pedirdes. É claro que não significa “absolutamente tudo” (ou “qualquer coisa”), pois há coisas que definitivamente são impossíveis de serem atendidas. Se pedirmos para trocar de lugar com Deus de modo que nós passemos a ser Deus, com certeza não seremos atendidos, porque há um critério estabelecido para que a oração seja atendida, que é estar de acordo com a vontade de Deus (1Jo.5:14). É por isso que Paulo, mesmo tendo orado três vezes para que fosse retirado seu “espinho na carne”, não foi atendido (2Co.12:8-9). É por isso que Tiago disse que “quando pedem, não recebem, pois pedem por motivos errados, para gastar em seus prazeres” (Tg.4:3). É por isso que nem o próprio Senhor Jesus foi atendido quando rogou a Deus para que passasse o cálice dele, livrando-o do sofrimento da cruz (Lc.22:42).

14.14 em meu nome. Não em nome de Maria, de José, de São Longuinho ou de qualquer “santo”, mas sim no nome de Jesus é que seremos atendidos. A Bíblia não nos dá qualquer base para orarmos aos que já morreram, a fim de pedir alguma coisa a eles ou uma intercessão. Jesus é todo suficiente para nos dar qualquer coisa que pedirmos a ele, se esta coisa é da vontade de Deus (v. nota anterior). E se não for da vontade de Deus, então não será a oração de um “santo” que irá mudar isso.

14.16 vos dará outro Consolador. Não é Maomé (como afirmam alguns muçulmanos) nem Alan Kardec (como afirmam alguns espíritas), mas o texto deixa claro que é o Espírito Santo (v.26), que foi derramado sobre os discípulos pela primeira vez em Jo.20:22 (v. nota).

14.17 habita convosco, e estará em vós. O Espírito Santo sempre existiu, mas até então estava apenas perto dos servos de Deus, e não dentro deles (exceto em raras ocasiões, onde o Espírito entrava em alguém para profetizar ou praticar alguma ação em especial). Agora, Jesus promete que o Espírito Santo não nos ajudaria apenas por fora, mas por dentro, nos ajudando a vencer o pecado que habita dentro de nós. Não seria mais uma possessão temporária, mas uma habitação permanente (1Co.6:19).

14.19 mas vós me vereis. Provável alusão ao fato de que ele apareceria novamente aos discípulos após ressurreto (enquanto o mundo continuaria pensando que ele permanece morto).

14.20 estou no meu Pai. O sentido em que Jesus estava no Pai era o mesmo em que nós estamos em Cristo (“e eu em vós”), ou seja, não no sentido de ser a mesma pessoa, mas de estar em comunhão direta.

14.21 a ele me manifestarei. Deus não se manifesta para o mundo da mesma forma que se manifesta para aqueles que o amam. Deus nos dá a possibilidade de não amá-lo, da mesma forma que um príncipe não força uma princesa a montar em seu cavalo e ir ao seu castelo: ele a deixa livre para escolher. Mas a partir do momento em que a princesa escolhe se casar com o príncipe, ela passa a conhecer o príncipe melhor, e a ter uma comunhão mais íntima e profunda com ele do que o relacionamento deste príncipe para com o povo em geral. É por isso que Deus se manifesta aos crentes de uma forma muito mais profunda do que a que ele se relaciona com os demais. Aos demais, Deus se mostra através da natureza (v. nota em Rm.1:20). Aos crentes, Deus se revela por meio da experiência pessoal, que é maior quanto maior for a nossa busca a Deus.

14.27 a minha paz vos dou. Não como a paz que o mundo tem, que é baseada no prazer passageiro e temporário proporcionado pelo pecado, mas uma paz mais plena, profunda e amorosa que nos é dada por estarmos em Cristo Jesus. O verdadeiro cristão não tem como fonte de alegria os acontecimentos externos, mas o próprio fato de estar em Cristo, que é a garantia da nossa herança futura.

14.28 o Pai é maior que eu. Em sua natureza humana, Jesus se tornou menor até mesmo do que os anjos (Hb.2:7), mas em sua natureza divina ele sempre foi igual ao Pai em natureza e dignidade (v. nota em Jo.1:1).

14.30 o príncipe deste mundo já vem. Satanás, que tentava impedir que Jesus completasse a sua missão.

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