30 de julho de 2014

Comentários de Lucas 17

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Este capítulo faz parte da obra: “O Novo Testamento Comentado”, de autoria de Lucas Banzoli e de livre divulgação.
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1. E disse aos discípulos:
É impossível que não venham ofensas, mas ai [daquele] por quem [estas ofensas] vierem!
2. Melhor lhe seria que lhe atasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse lançado no mar, do que ofender a um destes pequenos.
3. Olhai por vós. E se teu irmão pecar contra ti, repreende-o; e se ele se arrepender, perdoa-lhe.
4. E se pecar contra ti sete vezes ao dia, e se sete vezes ao dia voltar a ti, dizendo:
Estou arrependido.
Perdoa-lhe.
5. E os apóstolos disseram ao Senhor:
Acrescenta-nos fé.
6. E o Senhor disse:
Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a esta árvore de amoras:
Arranca-te daqui pelas tuas raízes, e planta-te no mar, ela vos obedeceria.
7. E qual de vós terá um servo, lavrando ou apascentando [gado] que, voltando do campo, logo lhe diga:
Chega, e senta [à mesa].
8. E não lhe diga antes:
Prepara-me o jantar, e apronta-te, e serve-me, até que eu tenha comido e bebido; e depois, come e bebe tu.
9. Por acaso [o senhor] agradece a tal servo, porque fez o que lhe foi mandado? Acho que não.
10. Assim também vós, quando fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei:
Somos servos inúteis, porque fizemos [somente] o que devíamos fazer.
11. E aconteceu que, indo ele para Jerusalém, passou por meio da Samaria e da Galileia.
12. E entrando em uma certa aldeia, saíram-lhe ao encontro dez homens leprosos, os quais pararam de longe.
13. E levantaram a voz, dizendo:
Jesus, Mestre, tem misericórdia de nós!
14. E ele, vendo-os, disse-lhes:
Ide, e mostrai-vos aos sacerdotes.
E aconteceu que, enquanto eles iam, ficaram limpos.
15. E vendo um deles que estava são, voltou, glorificando a Deus a alta voz.
16. E caiu com o rosto a seus pés, agradecendo-lhe; e este era samaritano.
17. E respondendo Jesus, disse:
Não foram os dez limpos? E onde estão os nove?
18. Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro?
19. E disse-lhe:
Levanta-te, e vai; tua fé te salvou.
20. E perguntado pelos fariseus [sobre] quando o Reino de Deus viria, respondeu-lhes, e disse:
O Reino de Deus não vem com aparência visível.
21. Nem dirão:
Eis aqui,
ou
Eis ali,
porque eis que o Reino de Deus está entre vós.
22. E disse aos discípulos:
Dias virão, quando desejareis ver um dos dias do Filho do homem, e não [o] vereis.
23. E vos dirão:
Eis que [ele está] aqui,
ou
Eis que [ele está] ali,
não vades, nem sigais.
24. Porque como o relâmpago, que relampeja desde o começo do céu, e brilha até ao fim do céu, assim será também o Filho do homem em seu dia.
25. Mas é necessário primeiro sofrer muito, e ser rejeitado por esta geração.
26. E como aconteceu nos dias de Noé, assim será também nos dias do Filho do homem.
27. Comiam, bebiam, se casavam, e se davam em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca; e veio o dilúvio, e destruiu a todos.
28. Como também da mesma maneira aconteceu nos dias de Ló, comiam, bebiam, compravam, vendiam, plantavam, [e] construíam.
29. Mas o dia em que Ló saiu de Sodoma, choveu fogo e enxofre do céu, e destruiu a todos.
30. Assim será [também] no dia em que o Filho do homem se manifestar.
31. Naquele dia, o que estiver no telhado, e suas ferramentas em casa, não desça para pegá-las; e o que [estiver] no campo, não volte para trás.
32. Lembrai-vos da mulher de Ló.
33. Qualquer que procurar salvar sua vida a perderá; e qualquer que a perder, irá salvá-la.
34. Digo-vos que naquela noite, dois estarão em uma cama; um será tomado, e o outro será deixado.
35. Duas estarão juntas moendo; uma será tomada, e a outra será deixada.
36. Dois estarão no campo; um será tomado, e o outro será deixado.
37. E respondendo, disseram-lhe:
Onde, Senhor?
E ele lhes disse:
Onde estiver o corpo, ali os abutres se juntarão.




17.2 melhor lhe seria. V. nota em Mt.18:6.

17.3 repreende-o. I.e, “mostra-lhe o erro”, assim como Paulo fez com Pedro em Antioquia (Gl.2:11-14).

17.5 acrescenta-nos fé. É digno de nota que, a esta altura, os apóstolos já curavam os enfermos, expulsavam os demônios e ressuscitavam os mortos (Mt.10:8), mas ainda não tinham fé suficiente para ter um coração que perdoe tanto. Isso mostra como o coração do homem tem a forte tendência de não perdoar, que vem pelo orgulho de pensar que estamos sempre certos e o próximo está sempre errado. Este orgulho deve ser quebrado para que tenhamos um coração tão dócil e manso ao ponto de nos arrependermos com facilidade e de quebrantarmos o nosso coração diante dEle em oração. Assim, Deus nos tornará mais flexíveis para com o próximo, derrubando cada dia mais o coração de pedra para colocar no lugar um coração de carne (Ez.11:19). Perdoar não é uma questão somente de fé, mas de consagração. Somente quando deixamos Deus moldar o nosso interior, quando choramos e nos derramamos na presença dEle, é que podemos olhar para o irmão que nos fez mal e liberar perdão, mesmo quando estamos com a razão. De fato, cada perdão sincero que é liberado é uma vitória do bem sobre o mal, da luz sobre as trevas, da humildade sobre o orgulho, e nos torna cada vez mais próximos daquele que é o perdão em pessoa, Cristo Jesus (Ef.4:32).

17.6 fé como um grão de mostarda. V. nota em Mt.17:20.

17.10 servos inúteis. Porque nada fazemos além daquilo que devemos fazer, e tudo o que fazemos só fazemos pelas forças que Deus nos deu para fazer. Cristo derruba por antecipação qualquer prepotência do homem em pensar que possui méritos ou que é merecedor de algo pelas suas próprias ações. Tudo o que Deus nos dará, incluindo a vida eterna e os galardões, virão pela graça daquele que não era obrigado a fazer nada disso, e não como um pagamento justo para alguém que trabalhou para merecer isso. Se Deus retribuísse conforme os nossos próprios méritos, e nos tratasse conforme os nossos próprios pecados, teríamos por fim a morte, e não a vida eterna (Rm.6:23). A vida eterna é um “dom gratuito de Deus” (Rm.6:23), que “não nos trata conforme os nossos pecados nem nos retribui conforme as nossas iniquidades” (Sl.103:10), e é adquirida através da fé em Cristo Jesus (v. nota em Ef.2:8).

17.19 tua fé te salvou. Os dez leprosos foram curados, mas somente um deles foi salvo. Muitos buscam a Deus e frequentam as igrejas apenas buscando uma cura física ou um milagre de qualquer natureza, e quando atingem este objetivo dão as costas a Deus, pois já obtiveram aquilo que desejavam. O desejo de tais pessoas não era Cristo, mas o que Cristo podia fazer por elas. No fundo, elas estavam na fé por amor próprio, e não por amar a Deus. Não devemos apenas estar no caminho certo, mas devemos estar com as motivações certas. Se aquilo que nos leva a prosseguir é materialista ou serve para a própria vanglória, estaremos sendo tão mundanos quanto os mundanos, tão descrentes quanto os descrentes, e tão egoístas quanto os nove leprosos que em nada pensavam além da sua própria cura.

17.20 não vem com aparência visível. Jesus estava rebatendo a crença judaica de que com o advento do Messias o Reino seria visivelmente estabelecido em Israel, libertando os filhos de Abraão da opressão dos romanos e inaugurando um Reino físico. Naquele momento, o Reino chegava em sua forma espiritual, na pessoa de Cristo, e espiritualmente em cada um de nós, onde Cristo habita por intermédio do Espírito Santo (Ef.3:17; 2Tm.1:14). O Reino em sua forma visível só seria estabelecido futuramente, após o milênio, quando a nova Jerusalém descer do céu da parte de Deus (Ap.21:2), e o tabernáculo de Deus estiver entre os homens (Ap.21:3).

17.24 relâmpago, que relampeja desde o começo do céu, e brilha até ao fim do céu. V. nota em Mt.24:27.

17.27 destruiu a todos. O dilúvio não deixou os ímpios vivos por mais sete anos, sofrendo em meio às águas, mas os destruiu completamente, os eliminou da face da terra. Cristo diz que assim também será nos dias do Filho do homem (v.26), o que mostra claramente que os ímpios não ficarão mais sete anos vivos aqui na terra depois da volta de Jesus, mas serão destruídos tão logo Jesus voltar. A teoria do arrebatamento secreto, inventada dezenove séculos depois de Cristo e que surpreendentemente consegue convencer muita gente, inverte a ordem dos acontecimentos e situa a volta de Jesus para sete anos antes do momento da destruição dos ímpios, que supostamente permanecem vivos depois do alegado “arrebatamento secreto” pré-tribulacional. Jesus também aproveita para deixar claro que o dilúvio destruiu a todos (v.29), assim como o fogo que caiu sobre Sodoma e destruiu a todos dali também (v.29), e que assim também será quando Jesus voltar (v.30). Isso deixa claro que na volta de Jesus não haverá nenhum ímpio que sobreviva à grande tribulação e que viva durante o milênio junto com os justos, perpetuando a descendência, como eles creem. Alegar isso seria tão suspeito quanto dizer que algum ímpio dos dias de Noé tenha sobrevivido ao dilúvio (v.27), ou que algum ímpio de Sodoma sobreviveu ao fogo e enxofre que caiu do céu sobre eles (v.29). Somente os justos ressurretos passarão o milênio na terra.

17.32 lembrai-vos da mulher de Ló. Ela olhou para trás e foi transformada em uma estátua de sal (Gn.19:26).

17.33 salvar sua vida, a perderá. V. nota em Lc.9:24.

17.34 um será tomado, e o outro será deixado. V. nota em Mt.24:40.

17.37 onde estiver o corpo, ali os abutres se juntarão. Cristo estava falando de cadáveres, deixando claro que o que será “levado” não será levado em vida e com segurança ao Céu, mas levado morto, para ser comido pelos abutres, assim como os ímpios da época de Noé foram “levados [mortos] pelo dilúvio” (Mt.24:39). Na volta de Jesus não haverá ímpios sendo mantidos em vida por mais sete anos, pois serão todos mortos (v. nota em Lc.17:27), ao passo em que os santos serão levados ao encontro de Cristo e depois “deixados” na terra, assim como Noé emergiu na arca e depois deixado [vivo] na terra, para tomar posse de uma terra transformada pelo dilúvio – em nosso caso, de uma terra transformada dos pecadores (v. notas em Mt.24:39, em Mt.24:40 e em Lc.17:27).

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