7 de agosto de 2014

Comentários de João 6

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Este capítulo faz parte da obra: “O Novo Testamento Comentado”, de autoria de Lucas Banzoli e de livre divulgação.
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1. Depois disto Jesus partiu para a outro lado do mar da Galileia, que é o de Tibérias.
2. E uma grande multidão o seguia, porque viam seus sinais que ele fazia nos enfermos.
3. E subiu Jesus ao monte, e sentou-se ali com seus discípulos.
4. E já a Páscoa, a festa dos judeus, estava perto.
5. Levantando pois Jesus os olhos, e vendo que uma grande multidão vinha a ele, disse a Filipe: De onde comparemos pães, para que estes comam?
6. (Mas ele disse isto para o testar; pois ele bem sabia o que havia de fazer.)
7. Respondeu-lhe Filipe: 
Duzentos dinheiros de pão não lhes bastarão, para que cada um deles tome um pouco.
8. Disse-lhe um de seus discípulos, André, o irmão de Simão Pedro:
9. Um menino está aqui que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos; mas que é isto entre tantos?
10. E disse Jesus: 
Fazei sentar as pessoas; 
e havia muita erva naquele lugar. Sentaram-se, pois, os homens, em número de cinco mil.
11. E tomou Jesus os pães, e havendo dado graças, repartiu-os aos discípulos, e os discípulos aos que estavam sentados, semelhantemente também dos peixes, quanto queriam.
12. E quando já estiveram fartos, disse ele a seus discípulos: 
Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca.
13. Então eles os recolheram, e encheram doze cestos de pedaços dos cinco pães de cevada, que sobraram aos que tinham comido.
14. Vendo, pois, aquelas pessoas o sinal que Jesus fizera, disseram: 
Este é verdadeiramente o Profeta que havia de vir ao mundo!
15. Sabendo pois Jesus que viriam, e o tomariam, para fazê-lo rei, voltou a se retirar sozinho ao monte.
16. E quando veio o entardecer, seus discípulos desceram para o mar.
17. E entrando no barco, vieram da outro lado do mar para Cafarnaum. E era já escuro, e Jesus [ainda] não tinha vindo a eles.
18. E o mar se levantou, porque um grande vento soprava.
19. E havendo já navegado quase vinte e cinco, ou trinta estádios, viram a Jesus andando sobre o mar, e se aproximando do barco; e temeram.
20. Mas ele lhes disse: 
Sou eu, não temais.
21. Eles, então, o receberam com agrado no barco; e logo o barco chegou à terra para onde iam.
22. O dia seguinte, vendo a multidão, que estava do outro lado do mar, que não havia ali mais que um barquinho, em que seus discípulos entraram; e que Jesus não entrara com seus discípulos naquele barquinho, mas [que] seus discípulos sós se haviam ido;
23. (Porém outros barquinhos vieram de Tibérias, perto do lugar onde comeram o pão, havendo o Senhor dado graças.)
24. Vendo pois a multidão que Jesus não estava ali, nem seus discípulos, entraram eles também nos barcos, e vieram a Cafarnaum em busca de Jesus.
25. E achando-o do outro lado do mar, disseram: 
Rabi, quando chegaste aqui?
26. Respondeu-lhes Jesus, e disse: Em verdade, em verdade vos digo, que me buscais, não pelos sinais que vistes, mas pelo pão que comestes, e vos fartastes.
27. Trabalhai não [pela] comida que perece, mas sim [pela] comida que permanece para vida eterna, a qual o Filho do homem vos dará; porque Deus Pai a este selou.
28. Disseram-lhe pois: Que faremos, para trabalharmos as obras de Deus?
29. Respondeu Jesus, e disse-lhes: 
Esta é a obra de Deus: que creiais naquele que ele enviou.
30. Disseram-lhe pois: 
Que sinal, pois, fazes tu para que o vejamos, e em ti creiamos? O que tu operas?
31. Nossos pais comeram o maná no deserto, como está escrito: 
Pão do céu ele lhes deu para comer.
32. Então Jesus lhes disse: 
Em verdade, em verdade vos digo, que Moisés não vos deu o pão do céu; mas meu Pai vos dá o verdadeiro pão do céu.
33. Porque o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo.
34. Disseram-lhe pois: 
Senhor, dá-nos sempre [d]este pão.
35. E Jesus lhes disse: 
Eu sou o pão da vida; quem vem a mim de maneira nenhuma terá fome, e quem crê em mim nunca terá sede.
36. Mas já tenho vos dito que também me vistes, e não credes.
37. Tudo o que o Pai me dá virá a mim; e ao que vem a mim, em maneira nenhuma o lançarei fora.
38. Porque eu desci do céu, não para fazer minha vontade, mas sim a vontade daquele que me enviou;
39. E esta é a vontade do Pai, que me enviou: que de tudo quanto me deu, nada perca, mas que eu o ressuscite no último dia.
40. E esta é a vontade daquele que me enviou, que todo aquele que vê ao Filho, e nele crê, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia.
41. Então os judeus murmuravam dele, porque ele tinha dito: 
Eu sou o pão que desceu do céu.
42. E diziam: 
Não é este Jesus o filho de José, cujos pai e mãe nós conhecemos? Como, pois, ele diz: 
Desci do céu?
43. Respondeu, então, Jesus, e disse-lhes: 
Não murmureis entre vós.
44. Ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia.
45. Escrito está nos profetas: 
E todos serão ensinados por Deus. 
Portanto todo aquele que do Pai ouviu e aprendeu, esse vem a mim.
46. Não que alguém tenha visto ao Pai, a não ser aquele que é de Deus; este tem visto ao Pai.
47. Em verdade, em verdade vos digo, que aquele que crê em mim tem vida eterna.
48. Eu sou o pão da vida.
49. Vossos pais comeram o maná no deserto, e morreram.
50. Este é o pão que desceu do céu, para que o ser humano coma dele e não morra.
51. Eu sou o pão vivo, que desceu do céu; se alguém comer deste pão, para sempre viverá. E o pão que eu darei é minha carne, a qual darei pela vida do mundo.
52. Discutiam, pois, os Judeus entre si, dizendo: 
Como este pode nos dar [sua] carne para comer?
53. Jesus, então, lhes disse: 
Em verdade, em verdade vos digo, que se não comerdes a carne do Filho do homem e beberdes seu sangue, não tereis vida em vós mesmos.
54. Quem come minha carne e bebe meu sangue tem vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia.
55. Porque minha carne verdadeiramente é comida; e meu sangue verdadeiramente é bebida.
56. Quem come minha carne e bebe meu sangue, em mim permanece, e eu nele.
57. Como o Pai vivo me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim quem come a mim também por mim viverá.
58. Este é o pão que desceu do céu. Não como vossos pais, que comeram o maná e morreram; quem comer este pão viverá para sempre.
59. Estas coisas ele disse na sinagoga, ensinando em Cafarnaum.
60. Muitos pois de seus discípulos, ao ouvirem [isto], disseram: 
Dura é esta palavra; quem a pode ouvir?
61. Sabendo pois Jesus em si mesmo, que seus discípulos murmuravam disto, disse-lhes: 
Isto vos ofende?
62. [Que seria] pois, se vísseis ao Filho do homem subir aonde estava primeiro?
63. O Espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos digo são espírito e são vida.
64. Mas há alguns de vós que não creem. 
Porque Jesus já sabia desde o princípio quem eram os que não criam, e quem era o que o entregaria.
65. E dizia: 
Por isso tenho vos dito que ninguém pode vir a mim, se não lhe for concedido por meu Pai.
66. Desde então muitos de seus discípulos voltaram atrás, e já não andavam com ele.
67. Disse, então, Jesus aos doze: 
Por acaso também vós quereis ir?
68. Respondeu-lhe pois Simão Pedro: 
Senhor, a quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna;
69. E nós cremos e conhecemos que tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.
70. Jesus lhes respondeu: 
Por acaso não [fui] eu que vos escolhi, os doze? Porém um de vós é um diabo.
71. E ele dizia [isto] de Judas de Simão Iscariotes; porque ele o entregaria, o qual era um dos doze.



6.11 repartiu-os aos discípulos. V. nota em Mt.14:18-21.

6.14 este é verdadeiramente o Profeta que havia de vir ao mundo. V. nota em Jo.1:21.

6.19 quase vinte e cinco, ou trinta estádios. I.e, “cerca de cinco ou seis quilômetros” (NVI). e temeram. Porque pensaram que fosse um “fantasma” (v. nota em Mt.14:26).

6.26 mas pelo pão que comestes, e vos fartastes. Em outras palavras, a razão pela qual aquela multidão seguia Jesus era porque pensava que ele fosse multiplicar a comida novamente e lhes saciar a fome – razões puramente interesseiras. Assim como aquela multidão, muitos nos dias de hoje frequentam igrejas neopentecostais porque pensam que ali encontrarão a tão sonhada “prosperidade”, verão sua conta bancária aumentando, suas dívidas sumindo e porque comerão do bom e do melhor desta terra, frequentando igrejas mercantilistas que fazem negócio em nome da fé, na prática vendendo o evangelho. A multidão daqueles dias para hoje mudou, mas a mentalidade continuou a mesma nestes dois mil anos.

6.27 O sentido do verso é de priorizarmos o alimento espiritual em relação ao alimento físico. O alimento físico é importante, mas somente para esta vida, enquanto que o alimento espiritual é valioso tanto para esta vida quanto ao nosso destino eterno.

6.33 o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo. Os judeus pediram um milagre para crerem em Cristo e citaram o maná que caía milagrosamente do céu nos tempos de Moisés. Era óbvio que eles não precisavam realmente ver mais milagres, pois haviam acabado de presenciar a grande multiplicação de pães e peixes que ocorrera anteriormente. O que eles queriam mesmo é que Jesus entrasse na ideia e fizesse um novo milagre envolvendo comida, como ele havia feito anteriormente e como o exemplo do maná citado por eles. Embora Jesus realmente se preocupasse com o estado físico deles (razão pela qual ele lhes multiplicou os pães e peixes), ele estava muito mais preocupado com o estado espiritual, que passaria a cuidar agora. O “pão de Deus” não era mais o alimento terreno, mas o alimento celestial, que era ele próprio. E para ter parte neste alimento espiritual bastaria crer nele (v.35). É em cima disso que ocorre o debate posterior, que os romanistas tiram do contexto para fazer parecer que Cristo estivesse referindo-se à eucaristia (Ceia do Senhor), quando, na verdade, o contexto era bem diferente, e a aplicação também. 

6.35 eu sou o pão da vida. Jesus não disse: “eu serei o pão da vida”, como diria caso estivesse se referindo à Ceia (que ainda era um acontecimento futuro), mas sim: “eu sou o pão da vida”, naquele tempo presente, fato este reforçado pelo seu pedido das pessoas virem até ele (naquele momento) para que não tivessem fome nem sede (v.35), espiritualmente falando. Cristo, portanto, não estava falando nem de um acontecimento futuro (eucaristia) nem de algo literal (transubstanciação), mas de algo presente (“eu sou”) e espiritual (“nunca terá sede”), usando a mesma linguagem que já havia empregado com a mulher samaritana no poço (v. nota em Jo.4:32). Desta vez, a analogia com o pão é claramente identificada com quem crê nele (“quem crê em mim nunca terá sede”).

6.36 e não credes. O problema daqueles judeus não era a recusa a comer o corpo de Cristo na eucaristia (que sequer existia ainda), mas sim a recusa a crer em Cristo, que era o que estava em jogo por detrás da metáfora com o pão e com a carne.

6.37 o que o Pai me dá virá a mim. Todos os cristãos que estão neste momento na condição de salvos só estão assim porque primeiramente o Pai derramou a graça preveniente sobre eles, possibilitando que eles fossem conduzidos ao Reino de Cristo, à salvação. de maneira nenhuma lançarei fora. Cristo não vai lançar fora alguém que vem a ele (i.e, aquele que crê nele), mas somente aquele que não crê, seja por apostasia ou por nunca ter crido uma vez. Aqueles que caem na apostasia não caem da graça em função de Cristo tê-los rejeitado e lançado fora, mas sim porque eles mesmos deliberadamente decidiram se apartar de Deus e foram embora.

6.38 eu descei do céu. Mais uma declaração explícita de sua pré-existência (v. nota em Jo.1:15). não para fazer a minha vontade. V. nota em Lc.22:42.

6.39 esta é a vontade do Pai. A vontade de Deus é que ninguém se perca. Aqueles que se perdem, que caem da graça e apostatam, não entraram nesta condição decaída porque Deus quis, mas porque eles mesmos quiseram. Diferentemente de como alegam os calvinistas, o fato de Deus não querer que nenhum salvo se perca não implica necessariamente que nenhum salvo pode perder a salvação, da mesma forma que o fato de Deus desejar que todos os homens sejam salvos (1Tm.2:4) não implica em salvação universal; da mesma forma que o fato de Deus desejar a salvação de todos os israelitas (Rm.10:1) não significa que todos os israelitas serão salvos; da mesma forma que o fato de Cristo pedir para que Deus perdoasse os que lhe crucificaram (Lc.23:34) não significa que todos os que crucificaram Jesus alcançaram perdão e salvação; da mesma forma que Deus não deseja que ninguém peque nem leva ninguém ao pecado (Tg.1:13), mas pessoas pecam assim mesmo, e da mesma forma que Deus não deseja que maridos espanquem suas esposas, que  crianças sejam estupradas por pedófilos, que inocentes sejam torturados até a morte ou que o mundo atual esteja nesta condição que está – mas estas coisas acontecem mesmo assim. A única forma de explicar tudo isso é que a vontade de Deus não determina nem causa todos os acontecimentos, mas muita coisa ocorre em função do livre-arbítrio exercido pelos próprios seres humanos, que são absolutamente responsáveis por seus atos condenáveis, pela própria apostasia e pela perda da salvação.

6.40 eu o ressuscitarei no último dia. A ressurreição de que Jesus tratava neste capítulo não era uma ressurreição meramente espiritual que ocorre no momento da conversão de cada crente, nem uma ressurreição que ocorre no momento da ressurreição de Cristo, nem uma ressurreição que ocorre sete anosantes do “último dia” (como sustentam os pré-tribulacionistas), mas uma ressurreição que ocorre no último dia, isto é, no dia da volta de Jesus, ao final da grande tribulação (v. nota em 1Ts.4:17).

6.42 não é este Jesus o filho de José, cujos pai e mãe nós conhecemos? V. nota em Mc.6:3.

6.44 ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou não o trouxer. V. nota em Jo.6:37.

6.46 este tem visto ao Pai. Não literalmente (v. nota em Jo.1:18), mas espiritualmente, no sentido de ter comunhão com o Pai através de uma vida de consagração a Ele.

6.47 tem a vida eterna. A garantia de que entraremos na vida eterna no futuro é uma garantia presente, assegurada pelo fato de que Cristo é a vida eterna (1Jo.5:20), e, portanto, aqueles que estão em Cristo tem a vida eterna, na qual entrarão na ressurreição da vida (v. nota em Jo.5:28-29).

6.50 coma dele e não morra. Jesus estava falando em termos espirituais. A morte sucede a todos os homens – inclusive aos cristãos mais devotos –, mas aqueles que estão em Cristo já foram regenerados, já passaram da morte para a vida, já foram transformados em novas criaturas e se continuarem “comendo dele” (i.e, crendo nele, de acordo com a metáfora deste capítulo – vs.35,36,47) não morrerão espiritualmente, ou seja, não voltarão ao estado de morte espiritual onde estavam antes de serem resgatados.

6.51 que desceu do céu. V. nota em Jo.6:38. a qual darei pela vida do mundo. V. nota em Jo.3:16.

6.52 como este pode nos dar sua carne para comer? Jesus havia acabado de falar sobre dar a sua carne pela vida do mundo (v.51) numa clara indicação de sua morte por crucificação, que seria o sacrifício expiatório pelos pecados da humanidade. Aqueles que “comessem” desta carne que seria crucificada, isto é, aqueles que cressem neste sacrifício expiatório (vs.35,36,47) teriam a vida eterna. Os judeus daquela época confundiram totalmente essa mensagem espiritual com algo mais literal, como se Jesus estivesse dizendo para literalmente comer sua carne, e os católicos de tempos mais recentes incorrem no mesmo equívoco dos judeus ao pensarem que Cristo estivesse falando em termos literais e sobre a eucaristia.

6.53 se não comerdes a carne do Filho do homem e beberdes seu sangue. Como em todas as outras vezes em que teve sua mensagem espiritual sendo erroneamente entendida como algo literal, Jesus não corrigiu a interpretação literal dos judeus, mas seguiu o curso de sua própria metáfora. O mesmo aconteceu quando Jesus falou a Nicodemos sobre “nascer de novo”. Este interpretou a mensagem literalmente, pensando que teria que voltar ao ventre da mãe e renascer (Jo.3:4). Ao invés de Jesus responder dizendo que não era para interpretar o texto tão literalmente, ele voltou a falar sobre nascer de novo (Jo.3:7), e Nicodemos continuou sem entender nada (Jo.3:9). Algo semelhante ocorreu logo depois com a mulher samaritana no poço, que interpretou literalmente a “água viva” que Cristo lhe falara (Jo.4:11). Ao invés de Jesus desfazer o mal entendido e dizer que esta água não era literal, ele seguiu o curso de sua metáfora (Jo.4:13-14), e a mulher continuou sem entender nada (Jo.4:15). É exatamente a mesma coisa que ocorre aqui, desta vez com os judeus. Ele estava falando sobre dar a sua carne em alusão ao sacrifício na cruz (v.51), e sobre comer desta carne em alusão a se apropriar deste sacrifício pela fé (vs.35,36,47), mas os judeus entenderam a mensagem literalmente. Jesus, da mesma forma que nas ocasiões anteriores, não parou o discurso para explicar tudo e desfazer o mal entendido, mas seguiu o rumo de sua analogia, deixando os judeus ignorantes ainda mais escandalizados (v.66).

6.55 minha carne verdadeiramente é comida; e meu sangue verdadeiramente é bebida. Da mesma forma que Cristo disse que ele era “verdadeira videira” (Jo.15:1), ele disse que sua carne era “verdadeira comida”. Trata-se, mais uma vez, do prosseguimento da metáfora onde Jesus tratava a si mesmo como um “pão” a ser comido (v. nota em Jo.6:35) naquele mesmo momento (através da fé), e não um ato de canibalismo ou uma alusão a um acontecimento futuro (como a Ceia).

6.56 quem come minha carne e bebe meu sangue, em mim permanece. Outra forte evidência de que Cristo não estava falando sobre a Ceia do Senhor (ou “eucaristia”), mas sobre crer nele. Há muitas pessoas que participam da Santa Ceia, mas estão com o coração distante de Deus, vivem vida de devassidão e imoralidade, se entregam ao pecado e não praticam aquilo que professam. O próprio apóstolo Paulo falou de pessoas que comiam e bebiam na Ceia “para a sua própria condenação” (1Co.11:29), porque o faziam irresponsavelmente. Portanto, a Ceia do Senhor por si só não faz com que alguém permaneça em Cristo, se não tiver a fé genuína nEle. Por outro lado, o texto faz completo sentido caso a metáfora não seja em relação à Ceia, mas sim à fé nEle, como todo o contexto aponta. Aquele que “come a sua carne” e que “bebe seu sangue”, isto é, os que creem verdadeiramente em Jesus e se apropriam pela fé do sacrifício expiatório na cruz pelos nossos pecados, permanece unido espiritualmente a Cristo. O texto, portanto, não é eucarístico, mas salvífico.

6.60 é esta palavra; quem a pode ouvir? V. nota em Jo.6:53.

6.63 as palavras que eu vos digo são espírito e são vida. I.e, palavras que deviam ser entendidas espiritualmente, e não literalmente, pela “carne” (aspecto físico).

6.64 mas há alguns de vós que não creem. Jesus não finaliza seu discurso dizendo: “mas há alguns que não comem literalmente a minha carne”, nem tampouco dizendo: “mas há alguns que se recusam a participar da eucaristia”, mas sim: “mas há alguns que não creem”, indo direto ao ponto, ao significado da metáfora com o comer e beber. Os que “comiam” a carne de Cristo eram os que criam nele, e os que se recusavam a isso eram os que não criam nele. Jesus não estava falando de um acontecimento futuro (como a Ceia), mas de algo já presente, de pessoas que já comiam sua carne (i.e, que já criam nele) ou que já se recusavam a isto.

6.65 ninguém pode vir a mim, se não lhe for concedido por meu Pai. V. nota em Jo.6:37.

6.70 eu que vos escolhi, os doze. A escolha dos doze foi uma eleição ministerial, isto é, um chamado para o ministério. Há pessoas que Deus especificamente escolheu para exercer o ministério, como é o caso de Moisés (At.7:35), Jeremias (Jr.1:5), Isaías (Is.49:1) e de Paulo (At.9:15). Esta eleição para o ministério não implica em salvação incondicional, pois Judas era um dos doze eleitos e se perdeu. Ela difere-se claramente da eleição mais comumente referida na Bíblia, que é a eleição geral para a salvação – a reunião de todos aqueles que estão em Cristo e compõem a Igreja. Enquanto a predestinação corporativa (da Igreja) se refere à salvação (2Ts.2:13), o chamado individual se refere ao ministério, e é uma coisa completamente diferente daquela. Um cristão nos dias de hoje pode se considerar “individualmente predestinado” ao ministério, mas, assim como Judas, se desviar deste ministério ou nunca ter sido salvo. Corporativamente falando, todos nós somos “predestinados” enquanto estamos em Cristo, porque a Igreja é predestinada à glória.

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