15 de julho de 2014

Comentários de Mateus 13

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Este capítulo faz parte da obra: “O Novo Testamento Comentado”, de autoria de Lucas Banzoli e de livre divulgação.
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1. E Jesus, tendo saído da casa aquele dia, sentou-se junto ao mar;

2. E chegaram-se a ele tantas multidões, que ele entrou num barco, [e ali] se sentou; e toda a multidão ficou na praia,
3. E ele lhes falou muitas coisas por parábolas, dizendo: 
Eis que o semeador saiu para semear.
4. E enquanto ele semeava, caiu uma parte [da semente] junto ao caminho, e vieram as aves e a comeram.
5. E outra [parte] caiu entre pedras, onde não tinha muita terra, e logo nasceu, porque não tinha terra funda.
6. Mas saindo o sol, queimou-se; e por não ter raiz, secou-se.
7. E outra [parte] caiu em espinhos, e os espinhos cresceram e a sufocaram.
8. E outra [parte] caiu em boa terra, e deu fruto, um cem, outro sessenta, e outro trinta.
9. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.
10. E chegando-se a ele os discípulos, disseram-lhe: 
Por que lhes falas por parábolas?
11. E ele, respondendo, disse-lhes: 
Porque a vós é dado saber os mistérios do Reino dos céus, mas a eles não lhes é dado.
12. Porque a quem tem, lhe será dado, e terá em abundância; mas a quem não tem, até aquilo que tem lhe será tirado.
13. Por isso lhes falo por parábolas; porque vendo, não veem; e ouvindo, não ouvem, nem entendem.
14. E neles se cumpre a profecia de Isaías, que diz: 
De ouvido ouvireis e não entendereis, e vendo, vereis e não enxergareis.
15. Porque o coração deste povo está insensível, seus ouvidos estão obstruídos; e seus olhos fecharam; para que seus olhos não vejam, nem seus ouvidos ouçam, nem seus corações entendam, nem se arrependam, e eu não os cure.
16. Mas bem-aventurados [são] vossos olhos, porque veem; e vossos ouvidos, porque ouvem.
17. Porque em verdade vos digo, que muitos profetas e justos desejaram ver o que vós vedes, e não viram; e ouvir o que vós ouvis, e não ouviram.
18. Ouvi pois vós a parábola do semeador:
19. Quando alguém ouve a palavra do Reino e não a entende, o maligno vem e arranca o que foi semeado em seu coração; este é o que foi semeado junto ao caminho.
20. E o que foi semeado entre pedras, este é o que ouve a palavra e logo a recebe com alegria.
21. Porém não tem raiz em si mesmo, e dura pouco; e quando vem a aflição ou a perseguição pela palavra, logo se ofende.
22. E o que foi semeado em espinhos, este é o que ouve a palavra, mas a ansiedade deste mundo, e o engano das riquezas sufocam a palavra, e fica sem fruto.
23. Mas o que foi semeado em boa terra, este é o que ouve e entende a palavra, e o que dá e produz fruto, um cem, e outro sessenta, e outro trinta.
24. E ele lhes declarou outra parábola, dizendo: 
O Reino dos céus é semelhante a um homem que semeia boa semente em seu campo,
25. E enquanto os homens estavam dormindo, o inimigo dele veio, semeou joio, e foi embora.
26. E quando a erva cresceu, e produziu fruto, então apareceu também o joio.
27. E chegando-se os servos do Dono da propriedade, disseram-lhe: 
Senhor, não semeaste boa semente em teu campo? De onde então veio o joio?
28. E ele lhes disse: 
O homem inimigo fez isto. 
E os servos lhe disseram: 
Queres pois que vamos e o colhemos?
29. Porém ele lhes disse: 
Não, para que, quando colherdes o joio, não venhais a arrancar também o trigo com ele.
30. Deixai-os crescer ambos juntos até a ceifa; e ao tempo da ceifa direi aos ceifeiros: Colhei primeiro o joio, e atai-o em molhos, para o queimar; mas ao trigo juntai no meu celeiro.
31. Ele lhes declarou outra parábola: 
O Reino dos céus é semelhante ao grão da mostarda, que o homem, tomando-o, semeou-o em seu campo.
32. O qual, em verdade, é a menor de todas as sementes; mas quando cresce, é a maior das hortaliças; e faz-se [tamanha] árvore, que as aves do céu vêm e se aninham em seus ramos.
33. Ele lhes disse outra parábola: 
O Reino dos céus é semelhante ao fermento, que a mulher, tomando-o, esconde-o em três medidas de farinha, até que tudo esteja levedado.
34. Tudo isto Jesus falou por parábolas às multidões, e sem parábolas não lhes falava.
35. Para que se cumprisse o que foi declarado pelo profeta, que disse: 
Em parábolas abrirei minha boca; pronunciarei coisas escondidas desde a fundação do mundo.
36. Então Jesus, tendo despedido as multidões, foi-se para casa. E chegaram-se seus discípulos a ele, dizendo: 
Explica-nos a parábola do joio do campo.
37. E ele, respondendo, disse-lhes: 
O que semeia a boa semente é o Filho do homem.
38. E o campo é o mundo; e a boa semente, estes são os filhos do Reino; e o joio são os filhos do maligno;
39. E o inimigo, que a semeou, é o diabo; e a ceifa é o fim dos tempos; e os ceifeiros são os anjos.
40. De maneira que, assim como o joio é colhido e queimado a fogo; assim também será no fim deste mundo.
41. O Filho do homem mandará a seus anjos, e ele colherão todas as ofensas de seu Reino, e aos que fazem injustiça;
42. E os lançarão ao forno de fogo; ali haverá o pranto e o ranger de dentes.
43. Então os justos brilharão como o sol no Reino de seu Pai. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.
44. Também semelhante é o Reino dos céus ao tesouro escondido num campo, que o homem, tendo o achado, escondeu-o; e por sua alegria, vai, e vende tudo quanto tem, e compra aquele campo.
45. Também semelhante é o Reino dos céus ao homem negociante, que busca boas pérolas.
46. Que tendo achado uma pérola de grande valor, foi, e vendeu tudo quanto tinha, e a comprou.
47. Também semelhante é o Reino dos céus à rede lançada no mar, e que colhe todo tipo [de peixes],
48. Que estando cheia, [os pescadores] a puxam à praia; e sentando-se, colhem o bom em [seus] vasos, porém o ruim lançam fora.
49. Assim será quando os tempos completarem seu fim; os anjos sairão, e separarão os maus dentre os justos;
50. E os lançarão no forno de fogo; ali haverá o choro e o ranger de dentes.
51. E Jesus lhes disse: 
Entendestes todas estas coisas? 
Disseram-lhe eles: 
Sim Senhor.
52. E ele lhes disse: 
Portanto todo escriba instruído no Reino dos céus é semelhante a um chefe de casa, que de seu tesouro tira coisas novas e velhas.
53. E aconteceu que, acabando Jesus estas parábolas, retirou-se dali.
54. E vindo à sua terra, ensinava-os na sinagoga deles, de tal maneira que se admiravam, e diziam: 
De onde [lhe vem] esta sabedoria, e estes milagres?
55. Não é este o filho do carpinteiro? E não se chama sua mãe Maria? E seus irmãos Tiago, e José, e Simão, e Judas?
56. E não estão todas suas irmãs conosco? donde [lhe vem] logo a este tudo isto?
57. E se ofendiam nele. Mas Jesus lhes disse: 
Não há profeta sem honra, a não ser em sua terra, e em sua casa.
58. E não fez ali muitas maravilhas por causa de sua incredulidade deles.




13.11 a eles não lhes é dado. A razão pela qual este conhecimento não foi revelado à multidão foi pelo próprio endurecimento do coração deles, causado pela rejeição interior ao evangelho (Mt.13:14-15; Jo.6:66; At.19:6-9; 28:25-27). Os discípulos, em contraste, aceitavam os ensinamentos mais duros de Jesus (Jo.6:67-69). O verso 12 expressa a tendência daquele que aceita o evangelho, que é crescer na fé, enquanto aqueles que rejeitam perdem cada vez mais oportunidades.

13.13 por isso lhes falo por parábolas; porque vendo, não veem; e ouvindo, não ouvem, nem entendem. As parábolas não apresentam as coisas de forma clara e literal, mas de maneira figurada e alegórica, onde geralmente cada elemento tem um significado espiritual por detrás daquilo que é ilustrado parabolicamente. Se as parábolas fossem em si mesmas literais e expressassem a verdade de modo claro e aberto, a multidão poderia ouvir e entender. Ela não ouvia e nem entendia porque a verdade está encoberta na parábola, e nãoexplícita nela.

13.25 semeou o joio. O joio era uma azevém, que se parece muito com o trigo em seus estágios iniciais de crescimento, de modo que não é possível saber o que é joio e o que é trigo. A semelhança entre ambos é tão grande que em algumas regiões o joio é chamado de “falso trigo”. Contudo, o joio pode ser venenoso e uma pequena quantidade colhida e processada junto ao trigo pode comprometer a qualidade de todo o produto obtido. Jesus fez este exemplo da época como uma analogia dos cristãos verdadeiros e dos falsos crentes. Tantos os verdadeiros filhos de Deus como os falsos congregam em nossas igrejas, sentam nas cadeiras, pregam nos púlpitos e aparentam ter uma vida consagrada a Deus, de modo que nada podemos suspeitar. Não é possível distinguir o joio do trigo pela aparência, nem o cristão verdadeiro do falso por aquilo que se vê externamente. Só Deus conhece o coração do homem.

A mensagem aqui transmitida é que Satanás infiltra falsos crentes, falsos mestres e falsos profetas com a única finalidade de ensinar doutrinas destruidoras e heresias de perdição (2Pe.2:1), para levar consigo o máximo de desviados e apóstatas, que seguem os ensinos de tais homens ou que se afastam da igreja por causa dos maus exemplos de “cristãos” ali dentro que não vivem uma vida cristã sincera com Deus e com o próximo. De fato, muitos crentes deixam de congregar nas igrejas por causa de maus exemplos, ou passam a seguir hereges heterodoxos e liberais. Eles perdem o ânimo na fé, deixam de orar, de louvar, de meditar na Palavra, de viver em santidade, de lutar contra o pecado. Com isso, o diabo atinge seu objetivo de semear o joio para confundir o trigo, contaminando boa parte do próprio trigo.

13.29 não, para que, quando colherdes o joio, não venhais a arrancar também o trigo com ele. A solução não é deixar a Igreja por causa do joio ali infiltrado. É buscar a Deus e ser um bom exemplo para o próximo ali dentro, sendo “um exemplo para os fiéis na palavra, no procedimento, no amor, na fé e na pureza” (1Tm.4:12). Ao invés de nos deixar vencer pelos maus exemplos, temos que ser os bons exemplos. Não devemos nos deixar vencer pelo mal, mas devemos vencer o mal com o bem (Rm.12:21).

13.30 deixai-os crescer ambos juntos até a ceifa. O trigo vivo e o joio vivo, assim como o trigo morto e o joio morto, estão em um mesmo lugar (terra para os viventes e Hades para os mortos) até a ceifa, que só ocorre no “fim dos tempos” (v.39), depois da ressurreição dos mortos. Não há qualquer separação entre o trigo e o joio antes disso, como ocorre na teologia imortalista que ensina que logo após a morte o trigo se separa do joio com destinos diferentes (Céu e inferno). O joio só será “queimado” (v.30) no fim dos tempos, não em um momento presente. Assim também, o trigo só será “recolhido no celeiro” (v.30) depois da ressurreição, e não antes.

13.32 menor de todas as sementes. O grão da mostarda não é o menor grão de semente que existe, mas era o menor que aqueles fazendeiros palestinos semeavam em seus campos. Isso é evidente pelo contexto, que diz que “o homem semeou em seu campo” (v.31), e de fato o grão de mostarda era a menor de todas as sementes que o fazendeiro judeu do primeiro século semeava em seu campo. A lição espiritual por trás disso é do crescimento do Reino, assim como há o crescimento do pé de mostarda, que pode crescer a ponto de se tornarem árvores com três metros de altura. De fato, o Reino na época de Cristo foi instaurado com apenas 12 discípulos – entre eles um traidor – e hoje já conta com milhões no mundo todo. Embora em nenhum momento seja dito que o Reino será maioria no mundo (v. Lc.18:8; Mt.7:14), o crescimento já é maior do que qualquer palestino daquele tempo poderia imaginar.

13.42 ali haverá pranto e ranger de dentes. No geena, que é onde os ímpios serão lançados após a ressurreição dos mortos e o juízo, para pagarem pelo tanto correspondente aos seus pecados antes de serem definitivamente destruídos (v. nota em Lc.12:47-48).

13.43 então. O texto mostra uma ordem cronológica. Os justos só “brilharão como o sol no Reino do Pai” (v.43)depois que os ímpios forem lançados ao “forno de fogo” (v.42), e Jesus disse que o joio só seria queimado no “fim dos tempos” (v. nota em Mt.13:30), em um momento futuro. Isso contradiz a teologia imortalista, segundo a qual o trigo que morreu já está no celeiro e o joio já está queimando, em um momento presente e simultaneamente.

13.44 por sua alegria, vai, e vende tudo quanto tem. O cristão se desfaz de todas as suas prioridades materiais para buscar o Reino de Deus acima de todas as demais coisas. O Reino, que nesta parábola é comparado a um tesouro, na parábola seguinte (v.46) é comparado a uma pérola, com o mesmo sentido. Para o verdadeiro cristão, nada mais importa além de viver por Cristo e por Seu Reino.

13.47-50 Esta parábola e seu significado é extremamente semelhante a do joio e do trigo (Mt.13:37-42), que Jesus havia contado anteriormente.

13.54 à sua terra. Nazaré (Mt.21:11).

13.55 irmãos. V. nota em Mc.6:3.

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