30 de julho de 2014

Comentários de Lucas 9

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Este capítulo faz parte da obra: “O Novo Testamento Comentado”, de autoria de Lucas Banzoli e de livre divulgação.
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1. E convocando seus doze discípulos, deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demônios, e para curarem enfermidades.
2. E mandou-os para pregar o Reino de Deus, e para curar aos enfermos.
3. E disse-lhes:
Não tomeis nada convosco para o caminho, nem vara, nem bolsa, nem pão, nem dinheiro, nem tenhais duas roupas cada um.
4. E em qualquer casa que entrardes, ficai ali, e saí dali.
5. E quaisquer que não vos receber, saindo vós daquela cidade, até o pó sacudi de vossos pés, em testemunho contra eles.
6. E eles, saindo, passavam por todas as aldeias, anunciando o Evangelho, e curando [aos enfermos] em todos os lugares.
7. E Herodes, o Tetrarca, ouvia todas as coisas que fazia; e estava em dúvida, porque alguns diziam que João tinha ressuscitado dos mortos.
8. E outros, que Elias havia aparecido; e outros, que algum profeta dos antigos havia ressuscitado.
9. E disse Herodes:
A João eu degolei; quem, pois, é este, de quem tantas coisas ouço?
E procurava vê-lo.
10. E os apóstolos, tendo voltado, contaram-lhe todas as coisas que tinham feito. E tomando-os consigo, retirou-se à parte a um lugar deserto da cidade, chamado Betsaida.
11. E as multidões, ao saberem, o seguiram; e ele as recebeu, e lhes falava do Reino de Deus; e curava aos que precisavam de cura.
12. E o dia já começava a declinar; e chegando-se a ele os doze, disseram-lhe:
Despede a multidão, para irem aos lugares e aldeias ao redor, se agasalhem, e achem o que comer; porque aqui estamos em lugar deserto.
13. Porém ele lhes disse:
Dai-lhes vós de comer.
E eles disseram:
Não temos mais que cinco pães, e dois peixes; a não ser se formos nós [mesmos] comprar de comer para todo este povo.
14. Porque havia ali quase cinco mil homens. Então disse a seus discípulos:
Fazei-os se sentarem em grupos, de cinquenta em cinquenta.
15. E fizeram assim, e fizeram todos se sentarem.
16. E tomando os cinco pães, e os dois peixes, e olhando para o céu, os abençoou, e os partiu, e os deu a seus discípulos, para [os] porem diante da multidão.
17. E todos comeram, e ficaram satisfeitos; e levantaram doze cestos de pedaços que sobraram.
18. E aconteceu que, enquanto ele estava orando só, e seus discípulos estavam com ele, que ele lhes perguntou, dizendo:
Quem as multidões dizem que eu sou?
19. E respondendo eles, disseram:
[Alguns], João Batista; e outros, Elias; e outros, que algum dos profetas antigos ressuscitou.
20. E disse-lhes:
E vós, quem dizeis que eu sou?
E respondendo Pedro, disse:
O Cristo de Deus.
21. E ele, advertindo-os, mandou-lhes que não dissessem a ninguém;
22. Dizendo:
É necessário que o Filho do homem sofra muitas coisas, e seja rejeitado pelos anciãos, e pelos chefes dos sacerdotes, e pelos escribas; e seja morto, e ressuscitado ao terceiro dia.
23. E dizia a todos:
Se alguém quer vir depois de mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia sua cruz, e siga- me.
24. Porque qualquer que quiser salvar sua vida a perderá; porém qualquer que, por causa de mim, perder sua vida, esse a salvará.
25. Porque, de que aproveita ao homem, ganhar o mundo todo, e perder ou prejudicar a si mesmo?
26. Porque qualquer que se envergonhar de mim e de minhas palavras, dele o Filho do homem se envergonhará, quando vier em sua glória, e [na] do Pai, e dos santos anjos.
27. E vos digo em verdade, que há alguns dentre os que estão aqui, que não experimentarão a morte, até que vejam o Reino de Deus.
28. E aconteceu que, quase oito dias depois destas palavras, tomou consigo a Pedro, e a João, e a Jacó, e subiu ao monte para orar.
29. E ele, enquanto estava orando, a aparência do seu rosto se transfigurou, e seu vestido [ficou] branco e brilhante.
30. E eis que dois homens estavam falando com ele, que eram Moisés e Elias.
31. Os quais apareceram em glória, e falavam de sua partida, que estava para se cumprir em Jerusalém.
32. E Pedro, e os que [estavam] com ele estavam cheios de sono; e quando despertaram, viram a glória dele, e [viram] a aqueles dois homens que estavam com ele.
33. E aconteceu, que eles, saindo de [onde] ele [estava], disse Pedro a Jesus:
Mestre, é bom estarmos nós aqui; e façamos três tendas; uma para ti, e uma para Moisés, e uma para Elias (não sabendo o que dizia).
34. E enquanto ele dizia isto, veio uma nuvem que os cobriu com sua sombra; e eles temeram ao entrar na nuvem.
35. E veio uma voz da nuvem, que dizia:
Este é o meu Filho amado; a ele ouvi.
36. E terminando aquela voz, Jesus se encontrava só; e eles se calaram, e por aqueles dias não contaram a ninguém nada do que tinham visto.
37. E aconteceu no dia seguinte, que descendo eles do monte, uma grande multidão lhe saiu ao encontro.
38. E eis que um homem da multidão clamou, dizendo:
Mestre, peço-te que vejas a meu filho, que é o único que tenho.
39. E eis que um espírito o toma, e de repente ele grita, e o convulsiona até a boca espumar, e dificilmente sai dele quando o maltrata.
40. E roguei a teus discípulos que o lançassem fora, mas não puderam.
41. E respondendo Jesus, disse:
Ó geração incrédula e perversa, até quando eu estarei ainda convosco, e vos tolerarei? Traze aqui teu filho.
42. E quando ainda vinha chegando, o demônio o derrubou, e o convulsionou. E Jesus repreendeu ao espírito imundo, e curou ao menino, e o devolveu a seu pai.
43. E todos se espantavam da grandeza de Deus. E enquanto todos se maravilhavam de tudo o que Jesus fazia, ele disse a seus discípulos:
44. Ponde vós em vossos ouvidos estas palavras: que o Filho do homem será entregue nas mãos dos homens.
45. Mas eles não entendiam esta palavra, e [seu significado] lhes era oculto, para que eles não a compreendessem; e temiam perguntar-lhe sobre esta palavra.
46. E levantou-se uma discussão entre eles, sobre qual deles seria o maior.
47. Mas Jesus, conhecendo o pensamento de seus corações, tomou a uma criança, e a pôs do seu lado.
48. E disse-lhes:
Qualquer um que receber esta criança em meu nome, a mim me recebe; e qualquer que receber a mim, recebe ao que me enviou; porque o que entre todos vós for o menor, esse [é o que] será grande.
49. E respondendo João, disse:
Mestre, temos visto a um, que em teu nome lançava fora aos demônios, e nós o proibimos, porque não [te] segue conosco.
50. E Jesus lhe disse:
Não o proibais, porque quem não é contra nós, é por nós.
51. E aconteceu que, cumprindo-se os dias em que ele viria a partir para o alto, ele se determinou a ir para Jerusalém.
52. E mandou mensageiros adiante de sua face; e indo eles, entraram em uma aldeia de samaritanos, para lhe prepararem a sua [estadia ali].
53. E não o receberam, porque seu rosto demonstrava que ele ia para Jerusalém.
54. E seus discípulos, Tiago e João, vendo [isto], disseram: 
Senhor, queres que digamos para que desça fogo do céu, e os consuma, como Elias também fez?
55. Porém ele, se virando, repreendeu-os, e disse:
Vós não sabeis de que espírito sois.
56. Porque o Filho do homem não veio para destruir as almas dos seres humanos, mas sim para salvá-las.
E foram para outra aldeia.
57. E aconteceu que, enquanto eles iam pelo caminho, alguém lhe disse:
Senhor, para onde quer que tu fores, eu te seguirei.
58. E Jesus lhe disse:
As raposas têm tocas, e as aves do céu [têm] ninhos; mas o Filho do homem não tem onde deitar a cabeça.
59. E disse a outro:
Segue-me.
Porém ele disse:
Senhor, deixa-me ir, para que antes eu enterre a meu pai.
60. Mas Jesus lhe disse:
Deixa os mortos enterrarem seus próprios mortos; mas tu vai, e anuncia o Reino de Deus.
61. E outro também disse:
Senhor, eu te seguirei; mas deixa-me antes despedir dos que estão em minha casa.
62. E Jesus lhe disse:
Ninguém que colocar sua mão no arado, e olhar para trás, é apto para o Reino de Deus.





9.13 não temos mais que cinco pães, e dois peixes. V. nota em Mc.6:37.

9.16 e os partiu. V. nota em Mt.14:18-21.

9.19
 João Batista... Elias... algum dos profetas. V. nota em Mc.8:28.

9.23 tome cada dia a sua cruz. O evangelho envolve negar-se a si mesmo, que é morrer para si mesmo – este é o significado de “levar sua cruz”. Milhares de pessoas eram crucificadas pelo império romano, e uma das coisas que eles obrigavam o condenado a fazer era carregar sua cruz até o local da sua crucificação. Era a maneira de publicamente admitir a todos: “eu estou sentenciado a morte”. Carregar a cruz, portanto, era uma confissão pública de que a sua vida acabou. Quando Jesus diz que quem o quisesse seguir teria que tomar sua cruz, ele estava dizendo que, a partir daquele momento, era para ter um estilo de vida onde todo mundo saiba que a sua vida acabou. Que a pessoa morreu para si mesma. Que ela negou-se a si mesma. Que agora ela não vive mais para a sua própria carne, nem para satisfazer seus próprios desejos, mas para “agradar aquele que o alistou” (2Tm.2:4), Jesus. É morrendo para a nossa vida que vivemos para Deus. “Os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e os seus desejos” (Gl.5:24). A nossa mentalidade deve ser a mesma de Paulo, que disse: “Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” (Gl.2:20).

9.24 salvar sua vida. Sua vida terrena. Aqueles que não abrem mãos de sua vida pelo Reino dos céus, mas vivem para si mesmos. a perderá. A vida eterna. perder sua vida, esse a salvará. Abrir mão desta vida, pela vida póstuma. A lógica é ganhar esta vida (viver para si mesmo agora) e não obter vida eterna no futuro, ou morrer para a própria vida agora (perdê-la) e herdar uma vida eterna como recompensa. A questão primordial não é se viver no mundo traz mais felicidade do que se viver para Deus, mas é se isso compensa. Esta vida não passa de um sopro em comparação com a eternidade.

9.27 não experimentarão a morte. V. nota em Mt.16:28.

9.30 Moisés e Elias. V. nota em Mc.9:4.

9.33 façamos três tendas. V. nota em Mc.9:4.

9.35 a ele ouvi. Embora Elias e Moisés também estivessem presentes, os discípulos foram admoestados a ouvirem somente Jesus. Elias e Moisés, assim como os demais servos de Deus, tiveram sua importância durante o tempo em que viveram, mas eles jamais podem ofuscar Jesus, que é o centro de toda a Bíblia e o foco de todo o evangelho. Todo o nosso culto, nossa veneração, nosso louvor e nossa adoração deve ser totalmente àquele que é digno de toda a honra e de toda a glória, Jesus Cristo, nosso único Senhor e suficiente Salvador (v. notas em 2Co.11:2-3 e 1Co.8:6).

9.45 não entendiam esta palavra. V. nota em Mc.9:10. temiam perguntar-lhe. V. nota em Mc.9:32.

9.46 levantou-se uma discussão entre eles, sobre qual deles seria o maior. V. nota em Mc.9:34.

9.50 quem não é contra nós, é por nós. Cristo não estava ensinando uma posição de passividade ou neutralidade, o que iria contra toda a sua doutrina sobre negar a si mesmo (Lc.9:23), sobre ele ser o único caminho e a única verdade (Jo.14:6), sobre serem poucos os que serão salvos (Lc.13:23-24) e sobre o fato de que quem não ajunta, espalha (Mt.12:30). O homem em questão não era alguém que se mantinha neutro ou passivo em relação a Cristo, mas sim alguém que repreendia demônios em nome dele (v.49), o que no mínimo implica que tinha fé em Jesus, algo que não existe em um descrente. O ponto em questão é que, embora aquele homem não fosse parte do grupo de doze apóstolos, ele não deveria ser calado por causa disso. Os seguidores de Jesus não se limitavam aos doze, mas a qualquer um que invocasse o nome do Senhor (At.2:21; Rm.10:13). Não ser contra Cristo, em um sentido bíblico, não é se manter em cima do muro, mas é se posicionar em favor dEle com fé e determinação.

9.56 não veio para destruir... mas para salvar. A missão de Cristo não era de expiar os pecados de alguns e não o de outros, deixando-os à mercê da má sorte e já previamente condenados ao inferno, mas era precisamente de salvar a todos – incluindo aqueles samaritanos –, o que só poderia ser alcançado através de uma expiação universal e ilimitada, como é ensinado e crido no arminianismo. A perdição (condenação) existe, não porque Cristo veio para salvar alguns poucos, mas porque muitos rejeitam a salvação que lhes é oferecida gratuitamente por Deus, condenando a si mesmos com suas ações (Tt.3:11).

9.57 por onde quer que tu fores, eu te seguirei. V. nota em Mt.8:20.

9.58 não tem onde reclinar a cabeça. Declaração enfática da pobreza e simplicidade da vida que Jesus levava, muito longe daquilo que os pregadores da prosperidade vivem e ensinam. Enquanto os reis viviam nos palácios (Lc.7:25) e a classe média em casas, Jesus exercia um ministério itinerante onde não tinha nem casa para dormir. Nas vezes em que ele chegava a Cafarnaum ele fazia da casa de Pedro a sua casa (Mc.2:1), mas nas outras regiões não há qualquer relato de algo parecido. O apóstolo Paulo foi suficientemente claro ao dizer que Jesus se fez pobre por amor a nós (2Co.8:9). Ele nasceu em uma manjedoura, provavelmente dentro de uma caverna (v. nota em Lc.2:7), tinha a humilde profissão de carpinteiro (Mc.6:3) que era uma das mais simples profissões da época, era filho de outro carpinteiro (Mt.13:55), não vivia com mais do que cinco pães e dois peixes (Mt.14:17), não tinha duzentos denários para alimentar a multidão (Mc.6:37), não tinha o dinheiro do imposto para pagar aos romanos (v. nota em Mt.17:27), não tinha onde reclinar a cabeça (Lc.9:58), tinha que ser sustentado pelas mulheres que os seguiam (Lc.8:3), passava as madrugadas nos montes (v. nota em Mt.14:25) e não tinha sequer um jumentinho para montar (v. nota em Mc.11:2-8). A ideia de um “Jesus rico”, formada pelas mentes doentias de falsos pregadores da prosperidade, é absolutamente fantasiosa e estranha às Escrituras, sendo fruto da mais grosseira manipulação de massa que existe.

9.59 enterre a meu pai. V. nota em Mt.8:21.

9.60 mortos enterrarem seus próprios mortos. V. nota em Mt.8:22.

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