29 de julho de 2015

Como diferenciar o literal do alegórico na Bíblia?


Introdução

Diz o apóstolo Paulo:

“Se algum descrente o convidar para uma refeição e você quiser ir, coma de tudo o que lhe for apresentado, sem nada perguntar por causa da consciência” (1ª Coríntios 10:27)

O pastor da minha igreja, Luciano Subirá, costuma brincar dizendo que demorou muito tempo até perceber que o texto não diz para comer “tudo”, mas “de tudo” (antes disso, ele devorava toda a comida!). É errado pensar que o foco de Paulo estava na quantidade da comida em si, ao invés de ser nos tipos de alimentos permitidos para se comer. Embora este pequeno erro de interpretação incorra em consequencias não muito drásticas – exceto se for você quem o convidou a comer –, na teologia há muitos que falham em questões semelhantes, mas que resultam em heresias catastróficas para a Igreja.


Interpretação Literal vs Alegórica

Mas de que forma podemos saber como interpretar a Bíblia? Devemos tomá-la literalmente, ao pé da letra, ou apenas alegoricamente, fazendo aplicações espirituais? Esta questão não é um debate de hoje, mas remete desde aos tempos mais antigos. É bem sabido que havia duas escolas de pensamento divergentes nos tempos da Igreja primitiva: a escola de Antioquia, que interpretava a Bíblia literalmente, e a de Alexandria, que a interpretava alegoricamente.

A origem da interpretação alegórica em Alexandria remete pelo menos aos tempos de Fílon, o judeu alexandrino crente nas Escrituras e ao mesmo tempo encantado com a filosofia grega-platônica, que exercia grande influência em Alexandria, um dos maiores polos culturais helenistas da época. Mas havia um problema: as divergências entre a filosofia de Platão e as Escrituras não eram poucas. Em linhas gerais, pouca coisa podia ser aceita de ambas sem corromper nenhuma das duas. Fílon queria ficar livre deste conflito. Ele era um judeu leal, mas com uma mente grega. Na tentativa de unir ambos os sistemas, aceitando o platonismo sem romper seu compromisso com a Escritura, ele passou a interpretar esta alegoricamente, especialmente nos pontos em que entrava em conflito com o pensamento grego.

O Dr. David S. Dockery afirmou:

“O propósito de Fílon era apologético no sentido de unir o judaísmo e a filosofia grega. Para ele, o judaísmo, se propriamente entendido, pouco diferia dos insights mais elevados da revelação grega. Deus revelou-se ao povo de Israel, a nação escolhida por Deus, mas essa revelação não era radicalmente diferente de sua revelação aos gregos”[1]

Em sua obra “Helenização e Recriação de Sentidos”, Miguel Spinelli afirma:

“Filon era de opinião de que o texto bíblico, de um modo geral, carecia de ser interpretado historicamente (no sentido da crítica das fontes, da origem do texto e de seu contexto). Dado que as palavras tinham um sentido escondido, mas admirável e profundo, era necessário adentrar-se nessa profundeza, a fim de trazer à tona, além do sentido magnífico, todo o seu valor”[2]

A interpretação alegórica de Fílon acabou ganhando força e predominando em Alexandria, e serviu de influência ao pensamento de Orígenes e de Clemente Alexandrino, dois cristãos da segunda metade do século II d.C. Rejeitando a interpretação literal, Clemente dizia:

“Sabendo que o Salvador não ensina nada de uma maneira meramente humana, não devemos ouvir seus pronunciamentos de forma carnal; mas com a devida investigação e inteligência, devemos buscar e aprender o significado oculto deles”[3]

Orígenes foi tão longe com seu método alegórico que chegou até mesmo a propor a tese da preexistência das almas, sendo por isso considerado o mais antigo precursor da doutrina herética da reencarnação no núcleo cristão. Ele dizia:

“As criaturas razoáveis existiam desde o começo destes séculos, que nos não vemos e que são eternos. Houve aí a descida de uma condição superior a uma condição inferior, não somente entre as almas que mereceram esta mudança por suas ações, mas também entre as que, para servirem o mundo, deixaram as altas esferas pela nossa. O Sol, a Lua, as estrelas e os anjos servem o mundo, servem as almas cujos defeitos mentais as condenaram a encarnar-se em corpos grosseiros, e é por interesse das almas que tem necessidade de corpos densos, que o mundo foi criado”[4]

Não é difícil perceber que o método alegórico de interpretação da Bíblia dá asas para o intérprete voar tão longe quanto deseja, sendo capaz de inserir qualquer doutrina nas Escrituras ao seu bel prazer, bastando para isso criar o seu próprio conjunto de “significados alegóricos” em passagens escolhidas seletamente. O prof. Osvaldo Luiz Ribeiro corretamente afirma:

“O problema da alegoria é que o método não possui controle interno. Nem poderia, já que a alegoria é um método de apropriação de termos, frases e textos, fazendo-os dizer novos sentidos, novos discursos, novas verdades. A palavra antiga perde seu sentido antigo, e ganha um novo – alegórico. O novo sentido está na intenção do agente que opera a alegoria, ele existe antes da leitura, em repertório, cabendo ao leitor apenas o exercício de abrir o texto por meio do sentido de que já dispõe (...) Um leitor, uma alegoria, dois leitores, duas alegorias, três, três, quatro, quatro (...) A alegoria abre uma cartola sem fundo, de onde se podem tirar quantos e quais coelhos a mágica deseje”[5]

Dennis Downing, na mesma linha, denunciou:

“É possível que alguém imponha sobre a Bíblia sua própria vontade. É possível, e não muito difícil para quem é esperto, enganar muitas pessoas quanto a estranhas interpretações da Bíblia. Mas o problema não é com a interpretação em si, mas que a Bíblia foi mal interpretada e mal aplicada. E toda má aplicação da Bíblia tem que partir de uma má interpretação. A única defesa contra estes perigos é a interpretação correta da Palavra de Deus”[6]

A esmagadora maioria das heresias que entraram no seio da Igreja veio por meio do método alegórico, que cria doutrinas em um passe de mágica, bastando ter bastante imaginação e criatividade. É assim que surgiram os dogmas marianos, quando os intérpretes medievais buscaram apoio na alegoria de textos do Cânticos dos Cânticos, da figura da arca da aliança e em Apocalipse 12 para sustentar as inovações doutrinárias em torno de Maria, uma vez que na Bíblia em si não havia nada que clara e diretamente afirmasse tais coisas.

É assim também que pré-tribulacionistas inventaram um arrebatamento secreto (tão secreto que nem a Bíblia ficou sabendo), baseando sua doutrina em textos tomados ou alegoricamente ou tipologicamente, tais como as duas ursas que devoraram 42 rapazes (2Rs.2:24), o arrebatamento de Elias (2Rs.2:24), o casamento de José com Azenate (Gn.41:45), a fome no Egito, João “subindo” na visão (Ap.4:1), dentre vários outros exemplos defeituosos[7].

É por isso o método-padrão para a interpretação dos textos bíblicos deve ser o mesmo com o qual costumamos interpretar qualquer outro texto escrito: o literal. Isso não significa, no entanto, que todos os textos da Escritura devam ser tomados ao pé da letra, como fazem alguns fundamentalistas que vão para o extremo oposto. Há certas coisas na Escritura que ninguém em perfeita sanidade mental entende ao pé da letra, tais como o dragão que persegue a mulher grávida no deserto (Ap.12:13), os sete chifres e sete olhos em Jesus (Ap.5:6), ou o descendente da mulher (Jesus) que feriria a serpente (Gn.3:15). Até os maiores críticos do método alegórico reconhecem que o dragão era uma figura de Satanás, que os sete chifres eram uma figura de poder total, e que Jesus não pisou numa serpente literalmente, mas venceu o diabo espiritualmente.


Quando algo é alegórico?

É importante ressaltar que admitir o fato óbvio de que existem passagens não-literais na Bíblia não implica em aderir ao método alegórico, mas é simplesmente reconhecer que, diante de certo contexto, uma determinada declaração ou acontecimento não deve ser tomado ao pé da letra, nem mesmo pelo método gramático-histórico. Em nosso cotidiano, costumamos falar uns com os outros de forma literal, mas isso não significa que tudo o que dissermos deva ser tomado ao pé da letra, nem tampouco que seja impossível identificar o que é literal e o que não é.

Quando alguém usa uma expressão típica como “tire o seu cavalinho da chuva”, não acreditamos realmente que a pessoa trabalha no campo e tem um filhote de cavalo que não gosta de chuva. Quando contamos uma piada, sabemos que se trata de uma estória fictícia; não esperamos realmente que exista um “Joãozinho” que tenha deixado alguma professora desconcertada em sala de aula. Quando escrevemos poesias, é natural recorrermos ao uso de hipérboles que trabalham com a realidade em termos de exagero, os quais sabemos que não devem ser tomados ao pé da letra – o que é muito bom, já que evita que os cabelos da mulher de Salomão sejam considerados literalmente “um rebanho de cabras que vem descendo do monte Gileade” (Ct.4:1).

Assim como em nosso dia a dia, na Bíblia fundamentalmente literal também há muitas coisas que não eram entendidas ao pé da letra pelos receptores originais da mensagem, e nem devem ser tomadas ao pé da letra pelos intérpretes dos dias de hoje. Já destacamos a linguagem poética, muito facilmente discernível, quando por exemplo Deus aparece “cavalgando em uma nuvem” (Is.19:1). Alguns preteristas usam este texto como exemplo de que Jesus não voltará literalmente nas nuvens, mas perceba o claro contraste e a nítida diferença na linguagem em relação a quando os anjos literalmente disseram:

“E eles ficaram com os olhos fixos no céu enquanto ele subia. De repente surgiram diante deles dois homens vestidos de branco, que lhes disseram: ‘Galileus, por que vocês estão olhando para o céu? Este mesmo Jesus, que dentre vocês foi elevado ao céu, voltará da mesma forma como o viram subir’ (Atos 1:10-11)

Os anjos não estavam em um contexto poético aqui, e tampouco estavam falando de acontecimentos alegóricos. Ao contrário: da mesma forma que Jesus realmente subiu às nuvens do céu em sua ascensão (literal, à vista de todos os discípulos que o olhavam), ele também retornará nas nuvens do céu. O paralelo deixa claro que a volta de Cristo é tão real e literal quanto a sua ascensão.

Outro caso típico de alegoria são as parábolas, cujas histórias fictícias induzem a alguma lição moral, que é o objetivo real do contador. Um dos casos mais claros se encontra em 2ª Reis 14:9, que diz:

“Contudo, Jeoás respondeu a Amazias: O espinheiro do Líbano enviou uma mensagem ao cedro do Líbano: ‘Dê sua filha em casamento a meu filho’. Mas um animal selvagem do Líbano veio e pisoteou o espinheiro” (2ª Reis 14:9)

É claro que o objetivo da parábola não estava no literal – ninguém pensaria que de fato havia uma árvore conversando com outra árvore, e que isso fosse o que Jeoás quisesse passar. O significa verdadeiro das parábolas está por detrás da linguagem literal, e é assim que o próprio Jeoás interpreta no versículo seguinte, sem ter nada a ver com espinheiros, cedros, casamento ou animais selvagens:

“De fato, você derrotou Edom e agora está arrogante. Comemore a sua vitória, mas fique em casa! Por que provocar uma desgraça que levará você e também Judá à ruína?” (2ª Reis 14:10)

Quando alguém usou a parábola do bom samaritano na tentativa de refutar a tese da depravação total (Lc.10:30), foi assim que Calvino respondeu:

“Em primeiro lugar, o que diriam, se eu negar que há algum lugar para sua alegoria? Ora, não lugar à dúvida de que essa interpretação foi cogitada pelos patrísticos, à parte do sentido claro da linguagem do Senhor. As alegorias não devem ultrapassar os limites da norma que a Escritura lhes antepõe; pois longe estão de ser suficientes e adequadas para servirem de base a qualquer doutrina”[8]

O próprio Senhor Jesus disse:

“Por essa razão eu lhes falo por parábolas: Porque vendo, eles não vêem e, ouvindo, não ouvem nem entendem” (Mateus 13:13)

Como se pode observar, o propósito da parábola estava justamente em não conseguir compreendê-la literalmente. A realidade é mais profunda. Se as parábolas retratassem cenários literais, seria fácil para aquelas pessoas “ouvirem e entenderem”.

O terceiro caso mais típico de linguagem não-literal na Bíblia é, como não poderia deixar de ser, o Apocalipse. Neste livro podemos ver, por exemplo:

(1) Cristo no Céu em forma de cordeiro ensanguentado (Ap.5:6).

(2) Criaturas dentro do mar falando e louvando a Deus (Ap.5:13).

(3) Várias estrelas caindo sobre a terra (Ap.6:13)[9].

(4) “Almas” que gritam por vingança debaixo de um altar no Céu (Ap.6:9-11).

(5) Cavalos com cabeças de leão (Ap.9:17).

(6) Cavalos que soltavam de sua boca fogo e enxofre (Ap.9:17).

(7) Gafanhotos com coroa de ouro e rosto humano, cabelos como de mulher e dentes como de leão (Ap.9:7-8).

(8) Um dragão perseguindo uma mulher grávida no deserto (Ap.12:13).

(9) A mulher grávida no deserto tem asas e voa (Ap.12:14).

(10) A terra abre a boca engolindo um rio que um dragão soltou com a sua boca (Ap.12:15-16).

(11) Os trovões falam (Ap.10:3).

(12) O altar fala (Ap.16:7).

(13) Jesus tem sete chifres e sete olhos (Ap.5:6).

(14) Duas oliveiras e dois candelabros soltam fogo devorador de suas bocas (Ap.11:4-5).

Nestes e em vários outros casos semelhantes, praticamente nenhum intérprete sincero da Bíblia os toma literalmente, ao pé da letra. Isso porque o Apocalipse é um “livro em códigos”, repleto de enigmas, mistérios e simbolismos cujo objetivo é de ser desvendado pelo leitor mais cuidadoso. Em qualquer um dos casos citados (seja nas poesias, nas parábolas ou na linguagem apocalíptica) há intérpretes que cometem graves erros exegéticos e até mesmo fundamentam doutrinas baseadas nestes erros, pois tomam ao pé da letra aquilo que originalmente foi produzido no propósito de ter um significado mais oculto. Outros, como vimos, erram pelo extremo oposto, tomando como alegórico um conteúdo bíblico escrito de forma simples, natural e histórica.


Analisando o contexto

Além disso, uma forma mais simples de montarmos o quebra-cabeça da exegese é analisando todo o contexto. Na maioria esmagadora dos casos, uma passagem de natureza duvidosa é esclarecida por seu contexto. Se o contexto for claramente alegórico, ela tem de tudo para ser alegórica; se o contexto for claramente literal, ela tem de tudo para ser literal. Um dos casos mais interessantes se encontra em Mateus 27:52-53, que diz:

“Os sepulcros se abriram, e os corpos de muitos santos que tinham morrido foram ressuscitados. E, saindo dos sepulcros, depois da ressurreição de Jesus, entraram na cidade santa e apareceram a muitos” (Mateus 27:52-53)

Se este texto impressionante for analisado separadamente, há alguns que concluiriam que é literal, e outros que tentariam fazer qualquer tipo de interpretação alegórica em torno dele. Mas o que o contexto nos diz? Ele é inteiramente literal. Pegando apenas os dez versos anteriores, vemos:

(1) A zombaria que Jesus sofreu ao pé da cruz (vs.42-43).

(2) Os insultos que Jesus sofreu dos ladrões que estavam com ele (v.44).

(3) A escuridão que se fez na terra durante três horas (v.45).

(4) A esponja com vinagre que deram para Jesus beber (v.48).

(5) A morte de Jesus (v.50).

(6) O véu do santuário que se rasgou (v.51), fato este confirmado historicamente por Flávio Josefo.

(7) Então, os sepulcros se abrem e os santos ressuscitam e aparecem em Jerusalém (vs.52-53).

Mateus retratava todos os acontecimentos de forma literal, e também retratou com a mesma naturalidade os versos 52 e 53. Seria realmente estranho se ele tivesse quebrado sua lógica e repentinamente, sem aviso prévio, introduzisse uma alegoria gigante no texto, a qual os intérpretes alegóricos batem cabeça até hoje para conseguir entender do que se trata. O verso seguinte (v.54) em diante também nos passa a ideia de um acontecimento real, pois segue retratando tudo com a mesma simplicidade e naturalidade:

“Quando o centurião e os que com ele vigiavam Jesus viram o terremoto e tudo o que havia acontecido, ficaram aterrorizados e exclamaram: ‘Verdadeiramente este era o Filho de Deus!’” (Mateus 27:54)

Em contrapartida, como exemplo contrário, podemos citar o texto de Isaías 14:11, que alguns tomam como literal, e outros como alegórico. O texto em questão diz:

“Nas profundezas o Sheol está todo agitado para recebê-lo quando chegar. Por sua causa ele desperta os espíritos dos mortos, todos os governantes da terra. Ele os faz levantar-se dos seus tronos, todos os reis dos povos” (Isaías 14:9)

O que dizem os versos anteriores e posteriores neste caso?

(1) O verso anterior diz que os pinheiros e os cedros do Líbano (árvores) iriam se alegrar falar: “Agora que você foi derrubado, nenhum lenhador vem derrubar-nos!” (v.8).

(2) Os reis da terra não poderiam estar literalmente no Sheol, pois o texto diz que eles se “levantariam de seus tronos” (v.9), algo que só acontece enquanto o rei ainda vive.

(3) O verso 11 diz que “sua soberba foi lançada na sepultura, junto com o som das suas liras; sua cama é de larvas, sua coberta, de vermes”.

(4) O verso 12 em diante passa a dizer que ele “caiu dos céus” (v.12), que foi “atirado à terra” (v.12), que tentava subir ao céu e colocar seu trono acima das estrelas de Deus (v.13) e que subiria “mais alto que as mais altas nuvens” (v.14).

Diante disso, o mais sensato é tomar o verso 9 literalmente? Não!


Quando o contexto não é claro

E se ainda assim houver um texto em que a natureza do texto em si não ajuda, nem tampouco os seus versos imediatos? Há textos que de fato tem duplo sentido, e podem ser interpretados de mais de uma maneira. Certa vez alguém me perguntou: “Qual a metade de dois mais dois?”. Eu respondi “dois”, mas a resposta para o autor da pergunta era “três”. Isso porque a pergunta podia ser interpretada como sendo “metade de dois [a metade de dois é um] mais dois [1+2=3]”. A Bíblia não tem alguma questão matemática tão dúbia como essa, mas por outro lado há textos que podem semelhantemente ser interpretados por mais de uma maneira. O que fazer nestes casos? Agostinho nos ajuda neste ponto, citando o mesmo princípio hermenêutico que foi restaurado na Reforma Protestante: a Bíblia interpreta a Bíblia.

Ele disse:

“O Espírito Santo dispôs a Escritura Sagrada de uma forma tão magnificente e proveitosa que, por meio das claras passagens, ele sacia a fome, e por meio das passagens obscuras ele evita a aversão. Porque dificilmente alguma coisa provém das passagens obscuras, mas o que é afirmado em outra parte é mais claro”[10]

Para ele, as passagens mais claras da Escritura devem servir de intérprete para as passagens mais obscuras:

“Agora, apesar de eu mesmo não ser capaz de refutar os argumentos desses homens, eu ainda vejo o quanto é necessário aderir estreitamente para com as claras afirmações das Escrituras, a fim de que as passagens obscuras possam ser explicadas com a ajuda dessas”[11]

Em outras palavras, a solução na interpretação de um texto dúbio que proporciona mais de uma única possibilidade de interpretação legítima é simplesmente aderir àquela que está em conformidade com os textos mais claros, que não são dúbios. Desta forma, os “textos claros” lançam luz aos “textos obscuros”, facilitando a tarefa de interpretação para o intérprete.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Por Cristo e por Seu Reino,
Lucas Banzoli (www.lucasbanzoli.com)


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[1] DOCKERY, David S. Hermenêutica Contemporânea à luz da igreja primitiva. Editora Vida: 2001, p. 76.
[2] SPINELLI, M. Helenização e recriação de sentidosPorto Alegre: Edipucrs, 2002, p. 84.
[3] Clemente de Alexandria, On the Salvation of the Rich Man 5, em ROBERTS, A; DONALDSON, J.  The Ante-Nicene Fathers: Translations of the Writings of the Fathers down to a.D. 325, Grand Rapids: 1981, vol. II, p. 592.
[4] Orígenes, De Principiis, Livro III, c. 5.
[5] RIBEIRO, Osvaldo Luiz. Posições marcadas – Escrituras, engajamento e pesquisa. Disponível em: <http://www.ouviroevento.pro.br/teologicofilosoficos/posicoes_marcadas.htm> . Acesso em: 23/12/2013.
[6] DOWNING, Dennis. Alguns se preocupam que a interpretação da Bíblia poderia dar margem a idéias humanas. Disponível em: <http://www.hermeneutica.com/principios/principio3.html>. Acesso em: 23/12/2013.
[7] Os quais eu exponho em meu livro “A Igreja na Grande Tribulação” (Clube dos Autores: 2013).
[8] João Calvino, As Institutas da Religião Cristã. Editora Fiel: vol. 2, c. 5.
[9] Sabe-se que o tamanho das estrelas é maior do que o do nosso planeta e se caíssem estrelas sobre a terra esta acabaria no mesmo instante e o Apocalipse teria fim.
[10] Agostinho, citado em PIEPER, Francis, Christian Dogmatics, p. 324.
[11] Agostinho, On Merit and the Forgiveness of Sins, and the Baptism of Infants, Livro III, c. 7.

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