23 de junho de 2015

O Novo Testamento Comentado (por Lucas Banzoli)


“O Novo Testamento Comentado” é uma Bíblia de Estudos (versão BLIVRE) com comentários de Lucas Banzoli nas notas de rodapé dos versículos, de livre divulgação por parte do leitor. Esta obra ainda está em andamento. Abaixo segue os capítulos que já foram comentados até agora.


Mateus



Marcos



Lucas


Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Por Cristo e por Seu Reino,
Lucas Banzoli (apologiacrista.com)


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Comentários de João 11

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Este capítulo faz parte da obra: “O Novo Testamento Comentado”, de autoria de Lucas Banzoli e de livre divulgação.
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1 E estava doente um certo Lázaro, de Betânia, a aldeia de Maria e de sua irmã Marta. 
2 (E era Maria a que ungiu ao Senhor com o óleo, e com seus cabelos lhe limpou os pés; [a que] cujo irmão Lázaro era o que estava doente). 
3 Enviaram pois suas irmãs [uma mensagem] a ele, dizendo: Senhor, eis que aquele a quem [tu] amas está doente. 
4 E ouvindo Jesus, disse: Esta doença não é para morte, mas para glória de Deus; para que o Filho de Deus seja por ela glorificado. 
5 E Jesus amava a Marta, e a sua irmã, e a Lázaro. 
6 Quando, pois, ele ouviu que estava doente, ficou ainda dois dias no lugar onde estava. 
7 Então depois disto voltou a dizer aos discípulos: Vamos outra vez à Judeia. 
8 Disseram-lhe os discípulos: Rabi, ainda agora os Judeus procuravam te apedrejar; e tu voltas novamente para lá? 
9 Respondeu Jesus: Não há doze horas no dia? Se alguém anda de dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo. 
10 Mas se alguém anda de noite, tropeça; porque nele não há luz. 
11 Ele falou estas coisas; e depois disto, disse-lhes: Lázaro, nosso amigo, dorme; mas vou para despertá-lo do sono. 
12 Disseram pois seus discípulos: Senhor, se [ele] dorme, será salvo. 
13 Mas Jesus dizia [isto] de sua morte; porém eles pensavam que falava do repouso do sono. 
14 Então pois lhes disse Jesus claramente: Lázaro está morto. 
15 E me alegro, por causa de vós, que eu não estivesse lá, para que creiais; porém vamos até ele. 
16 Disse pois Tomé, chamado o Dídimo, aos colegas discípulos: Vamos nós também, para que com ele morramos. 
17 Vindo pois Jesus, encontrou que já havia quatro dias que estava na sepultura. 
18 (E Betânia era como quase quinze estádios de Jerusalém). 
19 E muitos dos judeus tinham vindo até Marta e Maria, para consolá-las por seu irmão. 
20 Ouvindo pois Marta que Jesus vinha, saiu-lhe ao encontro; mas Maria ficou sentada em casa. 
21 Disse pois Marta a Jesus: Senhor, se tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido. 
22 Porém também sei agora, que tudo quanto pedires a Deus, Deus o dará a ti. 
23 Disse-lhe Jesus: Teu irmão ressuscitará. 
24 Marta lhe disse: Eu sei que ele ressuscitará, na ressurreição, no último dia. 
25 Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição, e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá. 
26 E todo aquele que vive, e crê em mim, para sempre não morrerá. Crês nisto? 
27 Disse-lhe ela: Sim, Senhor; já cri que tu és o Cristo, o Filho de Deus, que viria ao mundo. 
28 E dito isto, [ela] se foi, e chamou em segredo a Maria, sua irmã, dizendo: Aqui está o Mestre, e ele te chama. 
29 Ouvindo ela [isto] , logo se levantou, e foi até ele. 
30 (Porque Jesus ainda não havia chegado à aldeia; mas estava no lugar onde Marta lhe saíra ao encontro). 
31 Vendo pois os judeus que com ela estavam em casa, e a consolavam, que Maria com pressa se levantara, e saíra, seguiram-na, dizendo: Ela vai para a sepultura, para chorar lá. 
32 Vindo pois Maria aonde Jesus estava, e vendo-o, caiu a seus pés, dizendo-lhe: Senhor, se tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido. 
33 Quando Jesus a viu chorar, e aos judeus, que vinham chorando com ela, comoveu-se em espírito, e ficou perturbado. 
34 E disse: Onde o pusestes? Disseram-lhe: Senhor, vem, e vê. 
35 Jesus chorou. 
36 Disseram pois os Judeus: Vede como ele o amava! 
37 E alguns deles disseram: Não podia este, que abriu os olhos ao cego, ter feito também que este não morresse? 
38 Comovendo-se pois Jesus outra vez em si mesmo, veio à sepultura; e era [esta] uma caverna, e estava uma pedra posta sobre ela. 
39 Disse Jesus: Tirai a pedra. Marta, a irmã do morto, disse-lhe: Senhor, já cheira mal, porque já é de quatro dias. 
40 Jesus disse-lhe: Não te disse, que se creres, verás a glória de Deus? 
41 Tiraram, pois, a pedra de onde o morto jazia. E Jesus levantou os olhos para cima, e disse: Pai, graças te dou, porque me tens ouvido. 
42 Porém eu bem sabia que sempre me ouves; mas por causa da multidão, que está ao redor, [assim] disse; para que creiam que tu me enviaste. 
43 E havendo dito isto, clamou com grande voz: Lázaro, sai fora. 
44 E o que estava morto saiu, [com] as mãos e os pés atados, e seu rosto envolto em um lenço. Disse-lhes Jesus: Desatai-o, e deixai-o ir. 
45 Pelo que, muitos dos Judeus, que tinham vindo a Maria, e haviam visto o que Jesus fizera, creram nele. 
46 Mas alguns deles foram aos fariseus, e lhes disseram o que Jesus havia feito. 
47 Então os sacerdotes e os fariseus juntaram o conselho, e disseram: Que faremos? Porque este homem faz muitos sinais. 
48 Se assim o deixamos, todos crerão nele, e virão os romanos, e nos tomarão tanto o lugar quanto a nação. 
49 E Caifás, um deles, que era sumo sacerdote daquele ano, lhes disse: Vós nada sabeis; 
50 Nem considerais que nos convém, que um homem morra pelo povo, e toda a nação não pereça. 
51 E ele não disse isto de si mesmo; mas que, como era o sumo sacerdote daquele ano, profetizou que Jesus morreria pelo povo. 
52 E não somente por aquele povo, mas também para que juntasse em um aos filhos de Deus, que estavam dispersos. 
53 Então desde aquele dia se aconselhavam juntos para o matarem. 
54 De maneira que Jesus já não andava mais abertamente entre os judeus, mas foi-se dali para a terra junto ao deserto, a uma cidade chamada Efraim; e ali andava com seus discípulos. 
55 E estava perto a páscoa dos judeus, e muitos daquela terra subiram a Jerusalém antes da páscoa, para se purificarem. 
56 Buscavam pois a Jesus, e diziam uns aos outros estando no Templo: Que vos parece? Que ele não virá à festa? 
57 E os sacerdotes e os fariseus tinham dado ordem de que, se alguém soubesse onde ele estava, o denunciasse, para que o pudessem prender.




11.6 ficou ainda dois dias no lugar onde estava. Uma crendice popular entre os judeus da época era que a alma pairava sobre o corpo de um morto por três dias e depois disso partia para seu destino espiritual. Ao quarto dia, o corpo já sem a vitalidade da alma apresentava sinais visíveis de decomposição e não podia ser mais ressurreto. Jesus esperou até o quarto dia para quebrar com estas falsas concepções populares e mostrar que ele é “Senhor dos vivos e dos mortos” (Rm.14:9), soberano o suficiente para ressuscitar quem ele quiser, não limitado às crendices e superstições do povo.

11.11 Lázaro, nosso amigo, dorme. A morte é equiparada ao estado de “sono”, porque, assim como quem dorme, os que morreram estão em estado de inatividade e inconsciência. Como bem definiu certa vez o apologista cristão Leandro Quadros, a morte é um “sono sem sonhos” (cf. Ec.9:5,10; Sl.6:5;115:16-18; 146:4; Is.38:18-19).

11.12 eles pensavam que falava do repouso do sono. Enquanto Jesus falava da morte como um sono enquanto analogia, os discípulos entendiam que Lázaro estivesse literalmente “dormindo” (ainda vivo).

11.16 para que com ele morramos. Os discípulos estavam com medo de morrer na Judeia, porque haviam acabado de procurar apedrejar Jesus ali (v. 8).

11.18 quinze estádios de Jerusalém. I.e, diferença de três quilômetros.

11.24 na ressurreição, no último dia. Este “último dia” está sempre relacionado com o dia da volta de Jesus, ao final da grande tribulação e antes do milênio (1Ts.4:13-17; 1Co.15:51-54).

11.25 ainda que esteja morto, viverá. Jesus é categórico em dizer que “ainda que morra, viverá” (no futuro), e não que “ainda que morra, vive” (no presente). A concepção cristã sobre a morte não é de um estado de vida no além, mas de não-vida, estado este sobreposto somente pela ressurreição dos mortos no último dia, trazendo novamente à existência aquele que antes estava literalmente morto (i.e, sem vida).

11.26 não morrerá. O original grego desta passagem diz: “αποθανη εις τον αιωνα” (não morrerá eternamente). Jesus não estava falando da primeira morte (a morte temporária, entre o falecimento e a ressurreição), mas da segunda morte (a morte eterna, final e irreversível).

11.27 tu és o Cristo, o Filho de Deus. Marta fez aquela mesma declaração de fé fundamental que é a rocha onde a Igreja está edificada – em “Cristo, o Filho do Deus vivo” (v. nota em Mt.16:18).

11.35 Jesus chorou. É interessante notar que mesmo já sabendo que iria ressuscitar Lázaro, Jesus ainda assim demonstrou genuína humanidade e chorou pela morte dele. O corpo de Jesus não era uma ilusão imaterial, como criam os docéticos, mas fisicamente real, experimentando sentimentos e reações emocionais humanas como qualquer um de nós.

11.41 Pai, graças te dou. O fato de Jesus orar ao Pai evidencia que são duas pessoas diferentes. A crença unicista de que Jesus e o Pai são a mesma pessoa é uma heresia que contraria o ensino dogmático de toda a Bíblia. Não apenas ambos são claramente diferenciados em vários ocasiões, como também Jesus fazia questão de orar ao Pai pedindo que a vontade dEle fosse feita, e não a de si próprio (Lc.22:42) – se Jesus fosse a mesma pessoa que o Pai, estaria sofrendo de um grave caso de bipolaridade. A Bíblia também ensina que Deus ressuscitou Jesus dentre os mortos (At.13:30), e não que ele se auto-ressuscitou. No batismo de Jesus, o Pai falou do céu e o Espírito Santo se manifestou em forma corpórea (Lc.3:22). Se Jesus e o Pai fossem a mesma pessoa, seria difícil entender os textos que falam sobre o Pai ser maior que Jesus (Jo.14:28) ou sobre Jesus estar subordinado ao Pai (1Co.15:28), ou sobre Jesus estar assentado à direita do Pai (Mt.26:64; At.7:56). Por fim, o batismo “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt.28:19) também evidencia que são pessoas distintas, embora sejam um único Ser (Deus), compartilhando da mesma natureza divina.

11.46 mas alguns deles foram aos fariseus. Mesmo com um milagre extraordinário que só seria possível ser realizado por Deus (uma vez que Satanás não pode realizar milagres de criação), ainda assim alguns judeus se recusaram a crer e preferiram ficar do lado dos fariseus. Isso nos faz lembrar do que Jesus contou na alegoria do rico e Lázaro, ao dizer que “se não ouvem a Moisés e aos Profetas, tampouco se deixarão convencer, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos” (Lc.16:31).

11.48 e virão os romanos. Aparentemente, eles pensavam que Jesus era um Messias do tipo militar, que atuaria como rei dos judeus no lugar do César, atraindo o ódio e a vingança dos romanos que fatalmente viriam para acabar com a rebelião e dar um fim em todos os judeus e também ao templo.

11:51 ele não disse isso mesmo... mas profetizou. Isso mostra que até mesmo um ímpio, às vezes, é capaz de ser usado por Deus para dizer alguma verdade (ainda que isto não mude o fato de ser um ímpio).

11.53 se aconselhavam juntos para o matarem. V. nota em Jo.11:48.

21 de junho de 2015

Comentários de João 10

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Este capítulo faz parte da obra: “O Novo Testamento Comentado”, de autoria de Lucas Banzoli e de livre divulgação.
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1 Em verdade, em verdade vos digo, que aquele que no curral das ovelhas não entra pela porta, mas sobe por outra parte, é ladrão, e assaltante. 
2 Mas aquele que entra pela porta é o pastor de ovelhas. 
3 A este o porteiro abre, e as ovelhas ouvem sua voz, e a suas ovelhas chama nome por nome, e as leva fora. 
4 E quando tira fora suas ovelhas, vai adiante delas, e as ovelhas o seguem, porque conhecem sua voz. 
5 Mas ao estranho em maneira nenhuma seguirão, ao invés disso dele fugirão; porque não conhecem a voz dos estranhos. 
6 Esta parábola Jesus lhes disse; porém eles não entenderam que era o que lhes falava. 
7 Voltou pois Jesus a lhes dizer: Em verdade, em verdade vos digo, que sou a porta das ovelhas. 
8 Todos quantos vieram antes de mim, são ladrões e assaltantes; mas as ovelhas não os ouviram. 
9 Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, será salvo; e entrará, e sairá, e achará pasto. 
10 O ladrão não vem para [outra coisa] , a não ser roubar, e matar, e destruir; eu vim para que tenham vida, e [a] tenham em abundância. 
11 Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá sua vida pelas ovelhas. 
12 Mas o empregado, e que não é o pastor, as cujas ovelhas não são próprias, vê o lobo vir, e deixa as ovelhas, e foge; o lobo as arranca, e dispersa as ovelhas. 
13 E o empregado foge, porque é empregado, e não tem cuidado das ovelhas. 
14 Eu sou o bom Pastor, e as minhas conheço, e das minhas sou conhecido. 
15 Como o Pai me conhece, [assim] também eu conheço ao Pai; e ponho minha vida pelas ovelhas. 
16 Ainda tenho outras ovelhas que não são deste curral; a estas também me convém trazer, e ouvirão minha voz, e haverá um rebanho, [e] um pastor. 
17 Por isso me ama o Pai, porque ponho minha vida para tomá-la de volta. 
18 Ninguém a tira de mim, mas eu de mim mesmo a ponho; poder tenho para a pôr, e poder tenho para tomá-la de volta. Este mandamento recebi de meu Pai. 
19 Voltou pois a haver divisão entre os Judeus, por causa destas palavras. 
20 E muitos deles diziam: Ele tem demônio, e está fora de si; para que o ouvis? 
21 Diziam outros: Estas palavras não são de endemoninhado; por acaso pode um demônio abrir os olhos dos cegos? 
22 E era a festa da renovação [do Templo] em Jerusalém, e era inverno. 
23 E andava Jesus passeando no Templo, na entrada de Salomão. 
24 Rodearam-no, então, os Judeus, e lhe disseram: Até quando farás nossa alma em dúvida? Se tu és o Cristo, dize-nos abertamente. 
25 Respondeu-lhes Jesus: Já vos tenho dito, e não credes. As obras que eu faço em nome de meu Pai, essas testemunham de mim. 
26 Mas vós não credes, porque não sois de minhas ovelhas, como já vos tenho dito. 
27 Minhas ovelhas ouvem minha voz, e eu as conheço, e elas me seguem. 
28 E eu lhes dou a vida eterna, e para sempre não perecerão, e ninguém as arrancará de minha mão. 
29 Meu Pai, que [as] deu para mim, é maior que todos; e ninguém pode arrancá-las da mão de meu Pai. 
30 Eu e o Pai somos um. 
31 Voltaram pois os Judeus a tomar pedras para o apedrejarem. 
32 Respondeu-lhes Jesus: Muitas boas obras de meu Pai vos tenho mostrado; por qual obra destas me apedrejais? 
33 Responderam-lhe os judeus dizendo: Por boa obra não te apedrejamos, mas pela blasfêmia; e porque sendo tu homem, a ti mesmo te fazes Deus. 
34 Respondeu-lhes Jesus: Não está escrito em vossa Lei: Eu disse: Sois deuses? 
35 Pois se [a Lei] chamou deuses a aqueles, para quem a palavra de Deus foi feita, (e a Escritura não pode ser quebrada);  36 [A mim], a quem o Pai santificou, e ao mundo enviou, dizeis vós: Blasfemas; porque disse: Sou Filho de Deus? 
37 Se não faço as obras de meu Pai, não creiais em mim. 
38 Porém se eu as faço, e não credes em mim, crede nas obras; para que conheçais e creiais que o Pai está em mim, e eu nele. 
39 Então procuravam outra vez prendê-lo; e ele saiu de suas mãos. 
40 E voltou a ir para o outro lado do Jordão, ao lugar onde João primeiro batizava; e ficou ali. 
41 E muitos vinham a ele, e diziam: Em verdade que nenhum sinal fez João; mas tudo quanto João disse deste era verdade. 
42 E muitos ali creram nele.



10:8 todos os que vieram antes de mim. I.e, todos os pretensos e falsos “Messias” que apareceram – e ainda apareceriam (Mt.24:5). as ovelhas não os ouviram. Deve ser entendido como o povo de Deus, i.e, a Igreja. Quem é de Deus não segue os falsos mestres.

10.9 eu sou a porta. Em sentido figurado, assim como quando ele disse “eu sou o pão da vida” (v. nota em Jo.6:35).

10.10 vida em abundância. Obviamente, Jesus não estava falando sobre prosperidade aqui, uma vez que ele mesmo viveu de forma humilde, sofreu e morreu enquanto esteve entre nós, e seus discípulos (a maioria simples pescadores, sem bens materiais) foram duramente perseguidos pelos judeus e pelo Império Romano e martirizados ao final da vida. Se alguém sofreu privações nesta vida, estes foram os primeiros cristãos. Enquanto os ímpios (imperadores romanos, por exemplo) viviam em palácios, os cristãos viviam escondidos e sob forte repressão. A “vida em abundância” que Jesus se refere, portanto, é abundante em sentido espiritual – libertação da cadeia do pecado e das correntes do maligno (Lc.4:18-19), de quem Deus nos livrou para nos trazer ao “Reino do seu Filho amado, em quem temos a redenção, a saber, o perdão dos pecados” (Cl.1:13-14).

10.12 deixa as ovelhas e foge. O falso mestre finge estar preocupado com as ovelhas somente para conseguir lucrar em cima delas. Quando alguém precisa de ajuda espiritual ele não tem tempo; quando alguém precisa de ajuda financeira ele não quer saber; quando alguém precisa de oração ou amparo ele dá as costas. Ele usa as pessoas, ao invés de viver por elas.

10.13 porque é empregado. Ou seja: ele recebe salário para isso, não o faz voluntariamente ou por amor.

10.16 que não são deste curral. I.e, que iam além dos doze discípulos iniciais (e também além da multidão que o seguia). O propósito era de levar o Reino adiante até os gentios, e então para toda a criatura (Mc.16:15).

10.18 de mim mesmo a ponho. A NVI traduz por: “eu a dou por minha espontânea vontade”. Em outras palavras, Jesus não foi compelido pelo Pai a dar a vida pelo mundo como uma forma de coação; ao contrário, ele mesmo quis se sacrificar pelo bem da humanidade, por livre e espontânea vontade.

10.25 já vos tenho dito. Tudo o que Jesus tinha dito (ex: “Eu Sou” – v. nota em Jo.8:58) era uma clara indicação de que ele era o Cristo, de modo que quem ainda hesitava em crer ou colocava isso em dúvida era incrédulo ou estava mal intencionado.

10.28 lhes dou a vida eterna. A salvação é um presente dado por Deus, e o papel do homem é apenas de aceitar este presente. O homem não é de modo algum o causador da sua salvação, como afirmavam os pelagianos. para sempre não perecerão. Provável alusão à vida eterna que se desfruta de fato após a ressurreição. Cristo não estava falando sobre perda de salvação ou perseverança dos santos aqui. O sentido do texto é que aqueles que obterem a vida eterna não perecerão jamais, pois estarão para sempre com Deus na eternidade. ninguém arrancará da minha mão. Até mesmo os que se desviam não se desviam porque alguém os arrancou da mão de Cristo, mas sim porque de si mesmos escolheram se apartar dele (sobre a perda da salvação, v. nota em Hb.6:4-6). O sentido geral do texto é que existe um grupo geral de salvos (chamado Igreja) que Cristo predestinou irreversivelmente à vida eterna, o que significa que todos os que fizerem parte do Corpo de Cristo durante a vida herdarão a vida eterna no último dia. Não é uma alusão a uma eleição individual à salvação, mas uma eleição corporativa.

10:30 somos um. V. nota em Jo.17:21-23.

10.34 sois deuses. Não literalmente um falso “deus”, como Baal, mas “deuses” no sentido de ser “filho de Deus”, por ter sido feito à imagem e semelhança do Criador. a Escritura não pode ser quebrada. I.e, nenhum argumento ou arrazoado humano pode se sobrepor à Escritura Sagrada, cuja autoridade é suprema e final.

10.38 o Pai está em mim. Não significa que o Pai e Cristo fossem a mesma pessoa, como erroneamente creem os unicistas, mas sim que o Pai atuava através de Jesus, pois Jesus fazia as obras de seu Pai (v. 37). Os milagres que Jesus fazia era Deus que fazia por meio dele (At.2:22), ou seja, o Pai capacitava o Filho para que este realizasse os milagres. A Bíblia também diz que “Deus fazia milagres extraordinários através de Paulo” (At.19:11), e nem por isso Deus e Paulo eram uma só pessoa. Semelhantemente, o Espírito Santo está em nós (2Tm.1:14), mas nós não somos o próprio Espírito Santo.

10:39 ele saiu de suas mãos. Não está claro se Jesus fez isso naturalmente ou sobrenaturalmente, mas o que importa é que Jesus não continuou em meio a eles aceitando ser preso ou morto, pois a sua hora ainda não havia chegado. 

Comentários de João 9

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Este capítulo faz parte da obra: “O Novo Testamento Comentado”, de autoria de Lucas Banzoli e de livre divulgação.
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1 E indo [Jesus] passando, viu a um homem cego desde o nascimento. 
2 E seus discípulos lhe perguntaram, dizendo: Rabi, quem pecou? Este, ou seus pais, para que nascesse cego? 
3 Respondeu Jesus: Nem este pecou, nem seus pais; mas sim para que as obras de Deus nele se manifestem. 
4 A mim me convém trabalhar as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar. 
5 Enquanto estiver no mundo, eu sou a luz do mundo. 
6 Dito isto, cuspiu em terra, e fez lama do cuspe, e untou com aquela lama os olhos do cego. 
7 E disse-lhe: Vai, lava-te no tanque de Siloé (que se traduz Enviado). Foi pois, e lavou-se; e voltou vendo. 
8 Então os vizinhos, e os que de antes o viram que era cego, diziam: Não é este aquele que estava sentado, e mendigava? 
9 Outros diziam: É este. E outros: Parece-se com ele. Ele dizia: Sou eu. 
10 Então lhe diziam: Como teus olhos se abriram? 
11 Respondeu ele, e disse: Aquele homem chamado Jesus fez lama, untou meus olhos, e me disse: Vai ao tanque de Siloé, e lava-te. E fui, e me lavei, e vi. 
12 Disseram-lhe, pois: Onde ele está? Disse ele: Não sei. 
13 Levaram aos Fariseus o ex-cego. 
14 E era sábado, quando Jesus fez a lama, e abriu os olhos dele. 
15 Então voltaram também os Fariseus a perguntar-lhe como vira, e ele lhes disse: Pôs lama sobre os meus olhos, e me lavei, e vejo. 
16 Então que alguns dos Fariseus diziam: Este homem não é de Deus, pois não guarda o sábado. Outros diziam: Como pode um homem pecador fazer tais sinais? E havia divisão entre eles. 
17 Voltaram a dizer ao cego: Tu que dizes dele, que abriu teus olhos? E ele disse: Que é profeta. 
18 Portanto os judeus não criam nele, de que houvesse sido cego, e [passasse a] ver, até que chamaram aos pais dos que [passou a] ver. 
19 E perguntaram-lhes, dizendo: É este vosso filho, aquele que dizeis que nasceu cego? Como pois agora vê? 
20 Responderam-lhes seus pais, e disseram: Sabemos que este é nosso filho, e que nasceu cego; 
21 Mas como agora ele vê, não sabemos; ou, quem lhe abriu os olhos, não sabemos; ele tem idade [suficiente] , perguntai a ele, ele falará por si mesmo. 
22 Isto disseram seus pais, pois temiam aos judeus. Porque já os Judeus tinham combinado, que se alguém confessasse que ele era o Cristo, seria expulso da sinagoga. 
23 Por isso disseram seus pais: Ele tem idade [suficiente] , perguntai a ele. 
24 Chamaram pois segunda vez ao homem que era cego, e disseram-lhe: Dá glória a Deus; nós sabemos que esse homem é pecador. 
25 Respondeu pois ele, e disse: Se é pecador, não o sei; uma coisa sei, que havendo eu sido cego, agora vejo. 
26 E voltaram a lhe dizer: O que ele te fez? Como ele abriu os teus olhos? 
27 Ele lhes respondeu: Eu já vos disse, e ainda não o ouvistes; para que quereis voltar a ouvir? Por acaso vós também quereis ser discípulos dele? 
28 Então lhe insultaram, e disseram: Tu sejas discípulo dele; mas nós somos discípulos de Moisés. 
29 Bem sabemos nós que Deus falou a Moisés; mas este nem de onde é, não sabemos. 
30 Aquele homem respondeu, e disse-lhes: Porque nisto está a maravilha: que vós não sabeis de onde ele é; e a mim abriu meus olhos! 
31 E bem sabemos que Deus não ouve aos pecadores; mas se alguém é temente a Deus, e faz sua vontade, a este ouve. 
32 Desde o princípio dos tempos nunca se ouviu de que alguém que tenha aberto os olhos de um que tenha nascido cego. 
33 Se este não fosse vindo de Deus, nada poderia fazer. 
34 Eles responderam, e lhe disseram: Tu és todo nascido em pecados, e nos ensina? E o lançaram fora. 
35 Ouviu Jesus que o haviam lançado fora, e achando-o, disse-lhe: Crês tu no Filho de Deus? 
36 Respondeu ele, e disse: Quem é, Senhor, para que nele creia? 
37 E disse-lhe Jesus: Tu já o tens visto; e este é o que fala contigo. 
38 E ele disse: Creio, Senhor; E adorou-o. 
39 E disse Jesus: Eu vim a este mundo para juízo, para os que não veem, vejam; e os que veem, ceguem. 
40 E ouviram isto [alguns] dos fariseus, que estavam com ele; e lhe disseram: Também nós somos cegos? 
41 Disse-lhes Jesus: Se fôsseis cegos, não teríeis pecado; mas agora dizeis: Vemos; portanto vosso pecado permanece.



9:2 Quem pecou? Na tradição judaica, os males que uma pessoa sofria em vida eram resultado dos pecados da própria pessoa (e consequentemente, se alguém vivia em fartura e riqueza significava que era um justo). Este é o pensamento exposto, por exemplo, pelos três amigos de Jó, que o acusavam injustamente de pecado uma vez que este passava por aflições nunca antes sofridas por outro homem, mesmo Jó sendo o mais justo e íntegro de toda a terra (Jó 1:1). Jesus veio para desfazer esta falsa concepção. Nem todo mundo que é atribulado na vida fez algo de ruim para merecer isso, e nem todo mundo que é próspero fez algo de bom para merecer isso. A retribuição só virá na eternidade (Ap.22:12), não nesta vida. este ou seus pais? Ainda de acordo com a tradição dos rabinos, se um bebê chutava a barriga da mãe enquanto dentro dela, seria castigado por isso quando nascesse. Outros ainda eram reencarnacionistas, ou seja, criam que aquele homem havia pecado em uma vida passada. Então, se o mal é sempre um castigo divino e se aquele homem já tinha nascido cego, só havia duas possibilidades: ou aquele homem havia pecado antes de nascer, ou então era por causa dos pecados de seus pais (algo veementemente negado por Deus – veja Dt.24:16). Jesus rejeita ambas as possibilidades (v.3), tanto a da reencarnação, quanto a da maldição hereditária, uma vez que nenhuma das duas é compatível com a doutrina cristã.

9:16 pois não guarda o sábado. Para os fariseus, até a cura no sábado era considerado um “trabalho” (embora nem a lei de Moisés afirmasse isso). Eles haviam imposto várias regras adicionais em torno da guarda sabática, e Jesus tirou essas cargas.

9.22 seria expulso da sinagoga. João assinalou que muitos líderes dos judeus criam em Jesus, mas se recusavam a afirmar isso publicamente, porque queriam mais a aprovação dos homens do que a aprovação de Deus (Jo.12:43). Ainda hoje, muitos tem medo de afirmar certas doutrinas que sabem que são bíblicas, porque isto desagradaria a maioria dos teólogos que pensam diferente, e teriam com isso mais inimigos do que se apenas repetissem o que dizem as tradições humanas. Ainda buscam mais a glória dos homens do que a de Deus.

9.24 dá glória a Deus. Uma melhor tradução seria: “Para a glória de Deus, diga a verdade...” (NVI). Eles não estavam querendo que aquele homem dissesse “glória a Deus”, mas que dissesse a verdade em nome de Deus.

9.28 somos discípulos de Moisés. Os fariseus se consideravam os sucessores de Moisés e até diziam se sentar na “cátedra” dele (Mt.23:2). Eles diziam guardar certas tradições orais que supostamente remetiam a desde os tempos de Moisés, sendo transmitida adiante geração após geração, incorruptivelmente. Mas Jesus combateu essas tradições por não serem bíblicas (v. nota em Mt.15:2). Qualquer semelhança pode não ser mera coincidência.

9:34 tu és todo nascido em pecados. V. nota em Mt.9:2. e o lançaram fora. I.e, ele foi expulso da sinagoga (v. 22).

9.38 e o adorou. V. nota em Mt.2:11.

9.39 para os que não veem, vejam. I.e, os marginalizados e excluídos da sociedade nos tempos de Jesus, que agora teriam mais oportunidade com a mensagem do evangelho. Pode também se referir aos gentios como um todo, que até então estavam de fora das promessas de Deus reservadas exclusivamente aos judeus, e que dali em diante estariam dentro sob a condição de crer em Jesus como o Cristo, fazendo parte do Seu corpo místico (Igreja).

9.40 também nós somos cegos? Os fariseus entenderam que a mensagem sobre a cegueira espiritual se aplicava a eles. Jesus acentua que a condenação deles era ainda mais evidente uma vez que eles entendem que podem ver e mesmo assim decidem viver nas trevas espirituais (v. 41).

9.41 se fôsseis cegos, não teríeis pecado. I.e, se eles nunca tivessem ouvido falar de Jesus, eles não seriam culpados por rejeitá-lo (seriam julgados de acordo com a lei moral, da qual Paulo fala em Rm.2:13-16). Mas uma vez que eles “veem” Jesus e mesmo assim deliberadamente o rejeitam, o pecado deles permanece, tornando-os indesculpáveis.