5 de setembro de 2015

A mulher precisa usar véu no culto?


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Este capítulo faz parte da obra: “Exegese de Textos Difíceis da Bíblia”, ainda em construção.
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A questão do véu não é exigida atualmente por nenhuma outra igreja exceto a Congregação Cristã no Brasil. Eles exigem o cumprimento atual e literal daquilo que Paulo disse em 1ª Coríntios 11:4-6:

“Todo homem que ora ou profetiza com a cabeça coberta desonra a sua cabeça; e toda mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta desonra a sua cabeça; pois é como se a tivesse rapada. Se a mulher não cobre a cabeça, deve também cortar o cabelo; se, porém, é vergonhoso para a mulher ter o cabelo cortado ou rapado, ela deve cobrir a cabeça” (1ª Coríntios 11:4-6)

O contexto da época é completamente ignorado, pois explica de forma perfeitamente razoável o porquê que as mulheres precisavam usar véu. A nota de rodapé da Bíblia de Estudos NVI assinala:

“Para a mulher, retirar em público o que lhe cobria os cabelos, expondo-os à vista de todos, era sinal de frouxidão moral e de promiscuidade sexual. Paulo diz que é como se raspasse a cabeça. Cabeça raspada significava que a mulher tinha sido submetida a humilhação pública por algum ato vergonhoso ou estava fazendo demonstração pública de independência e de recusa de submissão ao marido. A mensagem de Paulo a ela era: demonstre respeito e submissão ao marido cobrindo a cabeça durante o culto público”[1]

Em seu “Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e ‘Contradições’ da Bíblia”, Norman Geisler e Thomas Howe observam:

“Naqueles dias, o véu era um símbolo do respeito da mulher para com o seu marido. Em tal contexto cultural, era imperativo que a mulher usasse o véu na igreja, ao orar ou profetizar. Há uma diferença entre mandamento e cultura. Os mandamentos das Escrituras são absolutos, mas a cultura é relativa. Por exemplo, são poucos os que acreditam que ainda se aplica para o dia de hoje a ordem que Jesus deu a seus discípulos de não levarem um par de sandálias a mais, em suas jornadas evangelísticas. E a maior parte dos cristãos literalmente não mais saúda ‘todos os irmãos com beijo santo’ (1Ts.5:26). Nem acreditam que levantar ‘mãos santas’ durante a oração seja essencial na oração em público (1Tm.2:8)”[2]

Eles afirmam também:

“Há um princípio por trás de cada um desses mandamentos que é absoluto, mas sua prática não é. O que o crente deve fazer é absoluto, mas como fazê-lo é relativo, dependendo da cultura. Por exemplo, os cristãos devem cumprimentar-se um ao outro (isto é o ‘o que’); mas como se cumprimentam é relativo à suas respectivas culturas. Em algumas culturas, como no NT, é com um beijo; em outras é com um abraço; e ainda em outras é com um aperto de mãos. Muitos eruditos bíblicos acreditam que esse princípio é também verdadeiro a respeito do uso do véu. Isto é, que as mulheres, em todas as culturas e em qualquer tempo da história têm de demonstrar ter respeito para com seus maridos (o ‘o que’), mas ‘como’ tal respeito deve ser evidenciado nem sempre precisa ser com um véu. Por exemplo, pode ser pelo uso de uma aliança de casamento ou por qualquer outro símbolo cultural”[3]

Paulo escrevia a uma comunidade cristã em Corinto, num contexto específico daqueles dias, onde era costume de todas as mulheres usarem o véu, e somente as prostitutas que costumavam ficar com a cabeça descoberta. Em outras palavras, o que ele está dizendo neste texto é para que as mulheres cristãs não se assemelhem às prostitutas em seu modo de se vestir, pois isso seria um mau exemplo. É óbvio que, em uma cultura onde apenas as prostitutas não usam véu, e onde o não uso do véu é sinal de insubmissão, as mulheres cristãs devem usá-lo. Se em algum lugar do mundo atual isso ainda continua sendo a cultura predominante, esta ordenança ainda se aplica de forma literal neste lugar.

Mas este mandamento perde totalmente o sentido na nossa cultura, onde o uso ou não uso do véu não é um elemento que distingue a prostituta em relação às outras mulheres. O princípio (de não se assemelhar aos maus exemplos) é eterno, mas a sua aplicação depende do contexto cultural. Algo semelhante vemos em Lucas 10:4, quando Jesus diz para os seus discípulos não levarem sandália extra em suas missões evangelísticas. Seria ridículo, no entanto, que alguma igreja nos dias de hoje dissesse que os missionários estão proibidos de levar um tênis ou uma sandália da Havaianas em sua mala de viagem. O princípio (de não acumular muitos bens terrenos) permanece, mas a sua aplicação varia de contexto para contexto.

É importante sempre ter em mente o seguinte: a Bíblia nunca proíbe alguma coisa sem razão alguma. Tudo o que a Bíblia proíbe, que considera errado ou pecaminoso, tem uma razão de ser. Ela não possui normas arbitrárias, proibições sem sentido ou restrições inócuas e vazias. Sempre quando não encontramos um sentido razoável em alguma ordenança, é porque há um princípio maior atuando por detrás do mandamento em si. O problema é quando teólogos modernos descartam a existência deste princípio eterno, e tentam aplicar para os dias de hoje a mesma aplicação que tinha em uma época remota. É daí que surgem as regrinhas, as proibições, as imposições e as repressões irracionais, porque tentam trazer para os dias atuais uma aplicação que fazia sentido naquele tempo, mas não hoje.

Por Cristo e por Seu Reino,
Lucas Banzoli (www.lucasbanzoli.com)


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[1] Nota de rodapé da Bíblia de Estudos da Nova Versão Internacional, p. 1969.
[2] Norman Geisler e Thomas Howe. Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e ‘Contradições’ da Bíblia. Mundo Cristão: São Paulo, 1999.
[3] ibid.

Um comentário:

  1. Excelente explicação Lucas, parabéns!
    Vou encaminhar para minha amiga da Igreja Cristã no Brasil rs.. Veremos o que ela tem a dizer.

    A paz de Cristo.. Abraço.

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